quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Analise do filme ´´Kaspar hauser´´: sobre a luz dos textos de Roque de Barros Laraia



Da cultura civilizada, á um isolamento particular

            Começo á escrever, com uma imensa tristeza em meu coração, pois antes convicto de que pertencia a uma cultura justa e correta, hoje já não sei se compartilho dessa mesma opinião. Ao assistir a história de Kaspar Hauser, pude ver claramente, o quanto a cultura condiciona a visão de mundo do homem. A ponto de acreditarmos duramente que aquele modo civilizado de viver, é o mais correto a se seguir.
            Kaspar, um homem isolado dessa sociedade civilizada, sem conhecimento do bem e do mal, em sua mais ingênua natureza humana. Encontrado nesse estado e logo tido como louco. Á todo momento mutilado em seu estado natural, na tentativa de á duras penas, ser encaixado em uma realidade cultural totalmente diferente da sua. Para ele, aquele mundo, totalmente novo, de nada o servia. Para os ´´homens civilizados´´, ali se encontrará um homem, em uma situação triste e deprimente, que precisava urgentemente de uma socialização.
            Nesse processo, o de socialização de kaspar, dois momentos me marcaram profundamente. O primeiro, quando Kaspar, ver as canções dedicadas á nosso tão exaltado Deus, e as compara com uma gritaria de horrores de uma guerra. Cheguei a me questionar, se nosso Deus não passa de uma criação cultural do homem, mas logo me recompôs e lembrei de quão GRANDIOSO é nosso DEUS, operador de milagres esplendidos em nossas vidas. Mas mesmo assim meu coração não sossegou, e me questiono, mesmo que DEUS seja real e não uma criação cultural, será se a forma de exalta-lo é a correta?E ai vem-me uma tristeza profunda, que me tira o sossego. O segundo momento, foi quando Kaspar deparou, com uma realidade já mais vista, por ele, quando ele percebe que todos o desprezava. Aqui percebi que ate a solidão, é uma criação cultural, pois ele viveu toda sua vida sozinho, e nunca se sentiu só, e quando ele justamente é inserido no meio dos homens, ele se senti solitário. Daí Kaspar jamais seria o mesmo, ele perceberá a principal preocupação do homem, sempre querendo esta no centro das atenções, em uma individualidade, mais triste que a própria solidão. Kaspar já não pertenci aquele mundo desconhecido, agora pertenci ao mundo dos homens, os ´´civilizados´´.
            Segundo Laraia, a cultura também interfere no plano biológico do homem, confesso que um pensamento difícil de ser seguido por mim. Mas ao analisar a situação, daquele homem isolado, tomando por base a minha própria situação, pude perceber com mais clareza , o quanto a nossa cultura nos prende em uma sistematização condicionada até em algo tão natural, como nosso funcionamento biológico. A vontade de comer, nossas necessidades fisiológicas, coisas tão primarias do homem, mas que mesmo assim não conseguiram se ver livres dessa ´´manipulação cultural sistematizada´´. Com a historia de Kaspar, podemos ver como esse processo de socialização age sobre nós, e como age.
            Pude observar também, a questão da participação do individuo no meio cultural, e percebi que não importa o quanto nos esforcemos, para nos adaptarmos a esse sistema, nunca conseguiremos atingir um nível de socialização suficientemente, pois ela não é 100%. Por isso existem certos limites em nosso meio, para que assim conseguirmos seguir essa cultura, esses limites podem ser de idade, de nível intelectual, de gênero etc. Isso acaba nos levando á seguirmos uma cultura, sem questiona-la, mesmo que isso nos torne alienados em nossa própria realidade cultural, mas valido se conseguirmos sermos ao menos aceitos em nosso meio cultural. Essa alienação nos faz acreditar que a cultura tem uma lógica própria. Mas no filme pude perceber, que o que é lógico para mim, pode não ser tão lógico para um individuo, que carrega uma outra carga cultural. Exemplo disso, é quando Kaspar, é levado a acreditar que DEUS criou o mundo do nada, isso é uma coisa bastante lógica para nós,que compartilhamos de uma cultura totalmente cristã, mas para ele, que não pertencia aquela cultura até então, era algo inimaginável .
            Com que direito as pessoas questionam o modo de viver do outro? Com tamanha petulância, de achar que o seu modo de viver é o mais correto, o mais justo. Não venho aqui entrar no mérito da discussão, levantando a idéia de que viver em sociedade não é necessário, pois é mais que necessário, é fundamental para nossa sobrevivência. Mas creio que cada um tem o seu próprio modo de compartilhar sua realidade social, sem que seja necessário invadir o espaço e os valores do outro. No filme, em um certo momento, perguntaram para kaspar o seguinte: Como era sua vida antes?E ele respondeu:MELHOR QUE AGORA.
            Faço das minhas palavras a de Kaspar Hauser, e expresso aqui a minha mais profunda indignação com essa civilização. Que a todo tempo grita paz, mas que na verdade agi em horrores de uma guerra. Tomemos Kaspas, como exemplo, para refletirmos sobre nosso modo de viver, e observarmos aonde de fato temos posto nossos valores. Rosseau já dizia que o homem nasci puro, é a sociedade quem o contamina. Essa é a realidade vista por Rosseau na sua época, e a realidade vista por mim em minha época. Então o que iremos fazer? Iremos ficar parados e concordamos com tudo isso? Ou levantaremos do nosso circulo individualista, e mudaremos toda essa realidade? Eu os digo o que faremos, usaremos a nossa pureza natural, para purificar as ruelas dessas sociedades contaminadas e contaminadoras. Como podemos permitir que a cultura manipule, aquele que proprio a inventou?
                             http://www.youtube.com/watch?v=08BXuNmIpgI&feature=player_detailpage  (voces podem conseguir o filme no youtube, ele esta dividido em 11 partes de 10 minutos)

                                                                                                     Cristovão Alencar