quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

ARTIGO SOBRE O BULLYING: até quando vamos perder uma vida, para não perder a piada?

<iframe width="425" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/hhswIJAhtC4" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>

TERROR, PODER E SOCIEDADE: UMA VISÃO ANTROPOLÓGICA DAS NATUREZAS DO BULLYING





Resumo:

Este artigo busca a identificar de que forma a Antropologia e as Ciências Sociais em geral podem explicar as origens do fenômeno conhecido como bullying, querela social que tem tomado grande espaço na mídia nos últimos tempos. A presente obra se divide em três partes: na primeira, há uma apresentação sobre o tema do trabalho, seus objetivos, a metodologia utilizada e relevância do tema. Na segunda parte, é feita a exposição do tema com base no arcabouço teórico e as observações obtidas em relação ao corpus selecionado. Por fim, num terceiro momento retomamos as observações realizadas junto ao corpus, apresentando as soluções impetradas acerca dos questionamentos propostos.


Palavras-chave: Bullying, Violência, Antropologia, Sociedade.


INTRODUÇÃO[1]

            Estudos históricos e antropológicos têm demonstrado através dos tempos que a força e o medo tem sido grandes armas da Humanidade na condição de autodefesa e exploração do semelhante. Inclusive, uma das teorias mais famosas acerca da criação do Estado versa sobre esses termos, quando Thomas Hobbes (1588-1679) propôs que num Estado de Natureza a força física promovesse a supremacia de uns sobre outros e apenas o medo de um soberano poderoso e implacável poderia aplacar a instabilidade que essa condição natural implicaria aos homens.

            Ainda que Hobbes jamais tivesse elaborado sua visão sobre a origem do Estado, procedendo uma análise criteriosa da História humana, percebe-se naturalmente que dentro das variadas esferas sociais, o jogo da intimidação de um homem sobre outro praticamente é uma característica inerente e cujas razões podem ser das mais variadas, seja a obtenção de algum benefício (um político que ameaça publicar imagens comprometedoras de seu adversário na disputa por um cargo), ensinar alguma lição (o pai que surra o filho por suas travessuras) ou pelo mero instinto sádico que o ser humano demonstra para com os outros (as gargalhadas que soam quando se caçoa do colega desastrado). Com a evolução das discussões sobre os direitos humanos, especialmente na segunda metade do século XX, muitas dessas ações de intimidação alcançaram o caráter de crime, tais como a coação e a violência doméstica. No entanto, ainda protegido sob a égide de “brincadeira” ou pela própria inoperância das ações repressoras, o acossamento permaneceu incólume até ser devidamente alvo de pesquisas na Europa, demonstrando seu caráter danoso à formação da pessoa humana.

            Conhecido na língua inglesa pelo nome de bullying, que significa literalmente “a ação de um valentão”, o acossamento se traduz em atos de violência física e/ou psicológica, freqüentes e intencionais, de um ou mais indivíduos teoricamente mais fortes sobre um ou mais indivíduos fracos. O bullying pode ocorrer tanto de forma direta (comumente cometido por pessoas do sexo masculino, quase sempre desembocando em violência física extrema) como indireta (típico das pessoas de sexo feminino e crianças, determinada pela intenção de forçar a vítima ao isolamento social), podendo ocorrer nos mais variados ambientes da sociedade.

            Mais ainda do que a própria observância do tema em si, é mister perscrutar nos já citados eventos citados pela mídia recentemente, em confluência com o pensamento antropológico relacionado à construção cultural humana e suas noções de poder e autoridade, como o fenômeno do bullying pode ser compreendido em suas origens, que mecanismos internos e externos ao Homem contribuem para que ele desfira sua força ou iminente uso da força contra o seu semelhante.

            Com base nisso, foram escolhidos alguns casos de bullying que se tornaram notáveis publicamente para se proceder uma pesquisa de base bibliográfica nas obras consagradas que tratam dos meandros da Cultura e da relação poder-autoridade, com especial ênfase nos textos de Roque de Barros Laraia e José Manuel de Sacadura Rocha, corroborando suas assertivas com os eventos documentados pela mídia, identificando pontos de convergência que possam esclarecer as origens do fenômeno do ponto de vista antropológico.  

                                       

1-      BULLYING: O PODER DA INTIMIDAÇÃO OU A INTIMIDAÇÃO DO PODER?

            O fenômeno do bullying é particularmente interessante, uma vez que foi especialmente difundido como “comportamento normal” dentro da cultura popular, seja desde o romance O Ateneu (1888), do brasileiro Raul Pompeia, passando pelas histórias em quadrinhos do Homem-Aranha (1962), de Stan Lee e Steve Ditko e chegando até a ser mote para a comédia como no filme Te Pego Lá Fora (1987) e a série televisiva Todo Mundo Odeia o Chris (2005-2009). Porém, agora com as recentes pesquisas e situações dramáticas que tem sido relacionadas ao bullying, tais como o Massacre de Columbine (1999), nos Estados Unidos e uma série de outros eventos dentro da própria realidade brasileira, o tema se tornou pauta de discussões sérias e preocupadas nas escolas, nas ruas, dentro de casas, sendo assim, um tema relevante a ser observado pela ótica das Ciências Sociais, especialmente a Antropologia.  

            Por definição, os bullies, indivíduos agressores que comete bullying, realizam atos que combinam intimidação e humilhação da vítima. Insultar, agredir fisicamente, espalhar rumores, depreciar a figura da vítima, discriminando-a por sua etnia, orientação sexual, religião, classe social, procurando isolá-la do convívio social são ações que se caracterizam como bullying. Como já dito, o bullying pode ocorrer nos mais variados ambientes, seja no local de trabalho, na vizinhança, entre estados e países (assumindo semelhanças com a xenofobia) e até mesmo no âmbito militar, tendo inclusive um nome próprio, código vermelho. No entanto, o bullying é sem dúvida uma realidade típica nos ambientes de aprendizado: escolas, universidades e faculdades.  

            No Brasil, uma pesquisa realizada pelo IBGE revelou em 2009 que 30,8% dos estudantes brasileiros admitiram ser vítimas do acossamento, sendo a maioria do sexo masculino e alunos de escolas particulares. Especialmente no ano de 2010, três casos se tornaram emblemáticos sobre o tema e aqui serão analisados pela ótica antropológica a fim de compreender como se origina culturalmente a prática do bullying.

            Em maio de 2010, os pais de um aluno do Colégio Santa Doroteia foram obrigados pela Justiça a pagar uma indenização de oito mil reais depois que este perseguiu uma colega de 15 anos que era supostamente feia e foi caracterizada por ele como “tábua”, “prostituta”, “sem peito” e “sem bunda”. Os pais da menina disseram que várias vezes procuram a direção da escola, mas esta se colocou omissa diante dos eventos que prosseguiram até que a Justiça fosse acionada. A garota, que precisou de tratamento psicológico, teria ficado muito triste, estressada e emocionalmente debilitada nas palavras da psicóloga.

            Em junho do mesmo ano, desta vez no ambiente universitário, estudantes da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo publicaram uma edição do jornal estudantil O Parasita oferecendo um convite para “uma festa brega” a quem jogasse fezes num estudante homossexual.

            Em outubro, em Petrópolis, Rio de Janeiro, uma mãe foi pedir satisfações ao pai de um menino que praticava bullying contra seu filho de nove anos na escola. Este reclamava que era constantemente chamado de “boiola” e “magrelo” por dois colegas, sendo um deles o que apareceu acompanhado pelo pai numa galeria comercial. Diante das câmeras de segurança do local, o homem não só reprimiu a reclamação da mulher, como a agrediu no rosto, empurrou-a no chão e chutou-a, enquanto a mãe revidou como pode.

São três exemplos característicos do bullying, sendo que a agressão, verbal ou física, é motor para um poder de intimidação daquele que se julga superior em relação ao outro que é visto como diferente. Para demonstrar essa superioridade pretensa, esses indivíduos lançam mão da brutalidade, uma vez que já está inserido na sociedade humana a idéia de que o poder está vinculado à violência.

“Precisamos reconhecer, no entanto, que essa separação de autoridade e poder parte de nossas premissas filosóficas tradicionais, segundo as quais sempre nos parece que poder é a Violência institucionalizada e consentida e que a violência de poder sempre é necessária para o convívio social”. (ROCHA, 2008, p.53)

Teorias sobre a origem do bullying colocam em xeque esse possível poder de intimidação, colocando sim uma intimidação do poder como razão. Aquele que se sente o dono da situação, de seu ambiente, de sua área de abrangência, sente-se ameaçado em sua esfera de poder pelo que é novo, diferente e como um mecanismo de autopreservação, busca denegrir o outro, ridicularizá-lo. Pesquisas realizadas na Europa, principalmente nos países escandinavos, tem concluído que a maior parte dos agressores são pessoas com personalidades autoritárias, dominadoras.

E por que se dá esse comportamento? A resposta pode estar na Cultura. LARAIA (2009, p. 65) evoca Ruth Benedict ao dizer que a cultura é como uma lente segundo a qual o homem vê o mundo e assim, diferentes lentes condicionam diferentes visões. A cultura, entendida como trações comuns de tradições, ritos, costumes e valores que constroem a personalidade de uma pessoa, conduz esta em suas ações e/ou omissões, refletindo no comportamento perante a sociedade. E, dependendo da cultura na qual se encontra inserido o sujeito, suas reações diante do que foge à sua cultura podem ser repulsivas.

 “A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante”. (LARAIA, 2009, p.65)

Observando esse aspecto, é patente que há uma explicação cultural por trás das agressões relatadas pelos três casos supracitados. Numa sociedade pós-moderna onde o culto ao corpo é exacerbado, explorado à exaustão, uma garota que não apresente seios ou glúteos avantajados está fora dos padrões de “beleza” e por isso é excluída do convívio daqueles que compartilham o padrão cultural da mulher bela e atraente. Não é à toa que a moça do primeiro caso foi caracterizada e perseguida severas vezes como “feia” pelo colega penalizado. Outra figura que apresenta “comportamento desviante” é o homossexual, que no segundo caso torna-se alvo de discriminação e incitação ao achincalhe por aqueles que discordam de sua orientação, considerada reprovável boa parte da população brasileira, fortemente influenciada cultura judaico-cristã. No terceiro caso, um garoto foi vítima de bullying justamente por ser chamado de “boiola”, gíria popular para homossexual e “magrelo”, mais uma alcunha que caracteriza uma provável “fuga” dos padrões.

A valorização da própria cultura, de seus ritos, tradições, noções de certo e errado levam os homens a considerar quase sempre a sua cultura como a mais natural e correta. É o que as Ciências Sociais chamam de Etnocentrismo e o que, certamente, causa uma série de conflitos, sendo o bullying um dos mais velados e que só agora tem alcançado maior debate. Quando alguém que difere daquilo que é culturalmente aceito dentro de um ambiente, podem haver reações extremadas como o acossamento, uma vez que o diferente, para alguns indivíduos, gera um momento de crise na ordem daquele ambiente.

“O costume de discriminar os que são diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado mesmo dentro de uma sociedade. (...) Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais”. (LARAIA, 2009, p.72)


[1] Alunos do 2° período do Curso de Direito da Faculdade CEUT.

Ciência Política : A ALIENAÇÃO DO HOMEM EM SEU PROPRIO ESTADO SOCIAL

ALIENAÇÃO DO HOMEM EM SEU PRÓPRIO ESTADO SOCIAL :O QUE SE DEVE FAZER PARA MUDAR ESSA REALIDADE?
Cristóvão Alencar

                                  



Há muito se tem discutido sobre a liberdade que compartilhamos em nossa sociedade, onde é livre o que as leis determinarem como tal. Existindo uma critica muito forte sobre essa liberdade, quando dizem que os indivíduos dessas sociedades disciplinadoras, tem se tornado cada vez mais, alienado em seu próprio estado social. Quando se observa, que os mesmos não têm seguido as leis por que acreditam, que assim será melhor para todos, mas por serem previamente avisados  das sansões que possivelmente iram sofrer, caso não segui-las. Em detrimento desse aviso prévio, os indivíduos tem deixado de dar a devida atenção para o que as normas determinam, e dão mais importância  para as sansões que seguem as determinações.  Essa é uma realidade presente em nosso meio, em um mundo capitalista, que tem formado cidadãos cada vez mais individualistas, encampasses de enxergarem o declínios da sua própria sociedade, em uma situação triste e deprimente. Houve-se muito sobre a reformulação dessa liberdade, devendo ser entregue nas mãos do povo, que esse saberá como administra-la. Assim tornando esses cidadãos, indivíduos com plena cidadania, com uma participação mais presente em seu meio social.

Rosseau era tido como ´´liberalista´´, e já havia atentado para esse problema, fazendo fortes críticas ao estado, quando acreditava que a liberdade era a exigência fundamental, para que o individuo se mantivesse em seu estado de homem, como ser social. A liberdade é a principal característica, que separa o homem dos demais animais, e sem ela o homem, assim não poderia ser considerado. Mas engana-se quem acredita, que Rosseau, defendia uma liberdade individualista, ele acreditava que só se é possível ter liberdade em uma coletividade, pois é em uma convenção de homens, que se estabelecem direitos e também deveres. Sendo as convenções a fonte de toda forma de direito, é através do pacto social que as pessoas podem conquistar sua liberdade. A liberdade em Rousseau é a positiva, enquanto emancipação humana na conquista de autonomia, portanto, oposta à liberdade  dos liberais, que se sustenta na “não-intervenção” do Estado, para estimular a livre iniciativa ou a liberdade individual.

Com a liberdade que os liberais defedem, consegui-se ate visualizar o ´´estado de querra´´  que Hobbes tanto atentava, em seu contrato social. E que era a liberdade, essa tal desmedida, que Hobbes acreditava que iria levar o homem a total destruição. E que foi os homens, por reconhecerem a necessidade de ter um controle maior no seu meio, que assinaram entre si um contrato social e passaram o poder para um soberano. E foi depois disso e não antes, que a sociedade surgiu, agora com um clima mais ameno, e a possibilidade do homem sobreviver e viver entre seus semelhantes se estabeleceu. Ate em tão o homem vivia em uma situação totalmente desequilibrada, impossível de ter segurança em sua vida, e por isso ele resolveu entregar a sua liberdade nas mãos de quem o desse a garantia de manutenção de tal segurança no meio social. Mas é impossível manter a segurança, sem enfraquecer a liberdade. Pois se trata de dois valores distintos, que são muito importantes para o homem, mas toda vez que um for evidenciado, o outro terá que ser enfraquecido. E bobbio em sua obra ´´Teoria do ordenamento``, já atentava para essa realidade, quando chamou a situação de duas valorações distintas e opostas, em um mesmo ordenamento, de antinomias .

`` Fala- se de antinomia no Direito com referência ao fato de que um ordenamento jurídico pode ser inspirado em valores contrapostos(em opostas ideologias):consideram-se, por exemplo, o valor da liberdade e o da segurança como valores antinômicos, no sentido de que a garantia da liberdade causa dano, comumente, á segurança, e a garantia da segurança tende a restringir a liberdade;em conseqüência, um ordenamento inspirado em ambos os valores se diz que descansa sobre princípios antinômicos.Nesse caso, pode-se falar de antinomias de principio.´´(BOBBIO, 1995, p. 90 )

 Mas sabemos que tanto a segurança, quanto a liberdade, são essenciais para o desenvolvimento do homem, enquanto ser social. O que se vai fazer, em uma situação de conflito entre essas duas valorações, será enfraquecer a que menos, se grita necessária no momento do conflito. Para Rosseau, o individuo não perde sua liberdade para o soberano, ele permite que o soberano, que em nossa realidade se trata do estado democrático de direito, assegure e proteja, a sua liberdade. Assim tornando possível o seu uso, de forma que não cause dano para a segurança da maioria. Nos lembremos, do que Hobbes nos disse, que foram os próprios indivíduos que gritaram por essa segurança, uma vez que se encontravam em uma situação de total destruição, onde hoje a realidade é de convívio social estabelecido, e que esses não devem questionar o poder do soberano, pois é ele quem iria possibilitar as melhorias do individuo no meio social, através de um poder delegado pelo próprio individuo. Como podemos observar em quase todos os momentos em que vivemos, em qualquer meio social, a segurança se sobrepõe a liberdade, até mesmo por que , sem aquela, essa não seria possível.

Concordamos plenamente com a linha de raciocínio de Hobbes, quando ele fala que é necessário um poder superior para estabelecer a segurança da maioria, mas paramos por ai, pois quando ele acredita que os indivíduos não devem de maneira alguma questionar o poder do soberano a que se submete, já não o mais seguimos, pois esse seu pensamento de maneira alguma reflete a nossa realidade. Uma realidade, onde nossos representante tem sido movidos por maus sentimentos, tendo em suas decisões tudo, menos o reflexo de nossas necessidades sociais. Mas não entremos no mérito da discussão, pois aqui estamos não para escancarar a mau representação dos nossos representantes, que nós mesmos escolhemos e pomos a nossa frente, mas escancarar a irresponsabilidade de todo um povo, que tem deixado de lado o seu papel de cidadão, que é de auxiliar e fiscalizar seus representantes, quando esses promovem projetos de leis que vão contra os valores de sua sociedade. Os ´´cidadãos´´ tem se estabelecido em uma realidade individualista, que chega a ser mais triste que a própria solidão do seu estado de natureza, aquele degradante e destrutivo estado. E é esse comportamento do homem, em pensar apenas em se próprio, que tem o tornado alienado em sua própria realidade social.
Não acreditamos que dar a liberdade nas mãos do povo, seja a melhor solução para esse problema, quando sabemos que não estariam preparados para viver com essa liberdade desmedida, acredita-se que a grande maioria, reconhece a necessidade de um poder maior, para estabelecer a ordem em uma sociedade cada vez mais plural em seus valores. Mas não podemos dar as costas para essa realidade, que tão duramente tem ensinado a nós, que não vivemos uma parte e sim um todo. Acredita-se que o que falta seja uma maior conscientização, para que o povo não apenas reconheça esse sistema como melhor, mas que tire a venda do seus olhos, e o veja funcionar. Como sabemos não existe sistema no mais perfeito funcionamento, todo sistema existe falhas, e é por isso que o povo deva ta atento, para que quando essas falhas surgirem, os mesmos possam reivindicar melhorias de seus representantes.
Em todos os contratos sociais, destacou-se a necessidade da presença do estado, para que estabelecesse um convívio entre os homens. Mas foi em Locke, que atentou-se para a possibilidade do soberano extrapolar os limites do contrato, produzindo determinações ´´injustas´´ contra o povo. No contrato de Locke, vinha estabelecido um direito, que em nem um outro havia previsto, o direito de resistência, caso um soberano usurpasse um poder maior, que o delegado a ele, pelo povo.  E é esse direito, que o povo tem deixado de lado, pois tem se limitado a olhar apenas para sua própria situação individual, e esquece que existe um grande mundo alem do que nossos olhos possam ver. Devemos estar a tento para sabermos quando podemos e devemos usar esse direito de resistência. Resistir não a o poder reconhecido de um soberano, mas a uma realidade injusta que esse, por ventura venha estabelecer. As leis são necessárias para manutenção da ordem, mas essas só terão verdadeira eficácia caso o povo a que elas se voltem, esteja consciente de sua própria realidade social.
Pelo exposto, podemos concluir que a alienação do homem não esta, no fato de que ele pertença a uma sociedade disciplinadora, de liberdade limitada. E sim na sua má participação no desenvolvimento do meio social. E que só com a conscientização dele, será possível modificarmos essa realidade perigosa. Uma realidade que nos tem tornado homens presos á um sistema inverso, aquele que pretendíamos estabelecer com o tal contrato assinado. 

´´O homem inconsciente, é um animal domesticado, sem sensibilidade e sem vontades.´´(Cristovão Alencar)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Diario de campo(AS PROSTITUTAS): quebra de preconceitos

15/03/2010(segunda-feira)                                                                       01:03h

                               

Pré-conceito: prostituição


´´  Mulheres impuras, de vida fácil, imundas na sua intimidade, doentes, que não se dão o devido respeito, sem moral alguma, que ferem os valores de nossa sociedade, e que por esses motivos e outros mais, não merecem nosso respeito.``


          Esse é o conceito que tenho formado, sobre essas mulheres. Não consigo olhar para essas pessoas e sentir dignidade no que vejo, quanto mais direcionar a palavra a essas mulheres em qualquer situação que seja. A minha criação, baseada em conceitos de moral, que provavelmente seja bem contrário aos delas, não permite que eu mantenha contato com esses seres, e que se eu permitir, o mínimo contato, eu estaria permitindo que ferie a minha conduta moral, conduta essa, que minha família me proporcionou de forma tão digna.
         Sempre fui contra a prostituição. Se sentir vontade de transar, vou a uma festa qualquer, conquisto uma menina que me agrade, e a levo em um motel. Não as jugo, por utilizarem seus corpos da forma que elas quiserem, desde que, a forma que elas o use seja exclusivamente para proporcionar prazer a elas. O que não acho correto é usar seu corpo, como mercadoria, e pior atribuir um preço a essa mercadoria. Acredito que nosso corpo é algo de valor inestimável, pois é atravez dele que podemos expressar os diversos sentimentos que estão guardados em nosso mais profundo intimo. Deveríamos ter a consciência, que ninguém pode vender e nem se quer pensar na possibilidade de vender o próprio corpo. Mas a falta de dignidade dessas mulheres é tamanha, que não as permite reconhecer a verdadeira função do seu próprio corpo. A função do nosso corpo é exclusivamente de expressão artística, arte essa, que se encontra em nosso intimo, e que não deve de forma alguma ser colocada no mercado.
         Essas mulheres devem ser conscientizadas, sobre a agressão que estão cometendo, contra elas mesmas. Que por sua vez, agridem a nós, nos obrigando a aceitar a atividade que elas desenvolvem, como algo normal, aceitável.

``Aquele que vende o seu corpo, nunca soube e nem saberá, o verdadeiro significado da expressão, AMOR PROPRIO.´´


17/03/2010 ( quarta-feira )                                                                                   23:22h
1º CONTATO
(entrevista: presidente da associação das prostitutas)
O primeiro contato que tivemos com o grupo das prostitutas, foi as 12:35 do dia 17/03, aonde entrevistamos a Dona Célia, uma ex-prostituta, que hoje se dedica a militância contra o preconceito contra as prostitutas, sendo a atual presidente da associação das prostitutas do Piauí- APP. Essa associação defende justamente o direito dessas mulheres, quanto parte da nossa sociedade.
A entrevista durou cerca de 40 minutos, a abordamos com perguntas diversas, no inicio ficamos meio receosos, pois não sabíamos qual seria a sua reação diante de algumas perguntas que envolviam sua vida particular. Mas com o passar do tempo fomos ficando mais a vontade, pois nos mostrou ser bem descontraída no seu jeito de ser. Fomos muito bem recebidos, muito mais bem tratados por ela, do que provavelmente seriamos, por alguém que se autodenomina digno de viver em sociedade. O que foi uma surpresa pra mim, que não esperava tamanha dignidade em uma recepção, vinda de uma prostituta. Imaginei que se trataria de uma conversa bastante pesada e difícil.
            Tendo por base o que foi repassado por ela, as mulheres nessa situação, normalmente entram nessa vida, por ser a única opção encontrada, em uma realidade financeira totalmente desfavorável ao suprimento de suas mais primarias necessidades. Mas que se depois elas obtivessem uma segunda opção, elas iriam continuar a optar pela primeira. E com isso consegui visualizar o principal direito que elas lutam na associação, que é  `` O direito a liberdade de escolha``. Elas querem poder escolher essa atividade, e que por sua escolha não sejam agredidas pela sociedade, pois elas também fazem parte desse grupo maior.
            A Dona Célia hoje, encontra-se casada, tendo duas filhas como fruto desse relacionamento. Tendo essas informações em mão, questionei a ela a seguinte questão: Se uma de suas filhas optarem pela prostituição, você a apoiaria? Ela ficou por um certo momento pensativa, pensou bem no que ira responder e disse : `` Eu particularmente, como mãe, não apoiaria uma de minhas filhas nessa escolha, pois não gostaria de velas submeter-se a humilhações e sofrimentos, proporcionados por essa vida.
            Com essa declaração, não preciso questionar mais nada, pois a própria presidente da associação, que se diz desprovida de preconceitos, nos mostrou ter o seu próprio preconceito, sendo esse adquirido em uma experiência própria. Ela , mesmo que inconscientemente, reconhece que essa ``  escolha`` , não proporciona uma vida saudável e confortável a essas mulheres. E dessa declaração, levo-me a entender o porque da Dona Célia estar nessa militância contra o preconceito. Pelo que pude perceber, em sua experiência, não teve o olhar de alguém que a ajudasse a vencer esses sofrimentos e humilhações decorrentes de sua realidade de vida, que por muitas vezes nos mostra marcados em seu próprio semblante. Ela reconhece a necessidade, de proporcionar a essas mulheres, uma realidade menos humilhante, aonde as suas necessidades primarias fossem supridas, como por exemplo, a saúde. E nessa tentativa  de proporcionar essa vida mais saudável a essas mulheres, ela oferece em diversas oficinas, que ensina outro meio de ganhar a vida, as prostitutas. Nas oficinas elas aprendem bordado, costura, culinária, conhecimentos em informáticas e vários outros tipos de meios sustentáveis de se manter na sociedade. Mesmo assim não ferindo o direito de liberdade de escolha delas, e se optarem pela prostituição, terão toda a orientação necessária, para desenvolver essa atividade de forma mais saudável e responsável.   



24/03/210(quarta-feira)                                                                                                                   10:48h
2ºCONTATO
(entrevista: Virgiane Passos, produtora da TV Clube)

            Na entrevista coma Dona Célia, a presidente da associação das prostitutas do Piauí, identificamos uma diferença entre as prostitutas da associação e as garotas da Bete Cuscuz. Diferenças não só no local aonde trabalham, mas na forma em que elas se autodenominam. A Célia, no decorrer da sua 21/03/2010 (domingo)                                                                                            militância, observou que as garotas da Bete se reconhecem como ´´ acompanhantes ``, e nunca querem ser defendidas como prostitutas, isso a revolta.
            E com essa revolta particular da Dona Célia, sentimos a necessidade de conhecermos um pouco dessa outra realidade da prostituição. E dessa necessidade, surgiu o nosso segundo contato com a realidade dessas mulheres. Entrevistamos a Virgiane, que no passado fez uma matéria sobre prostituição de luxo, e nessa matéria ela teve o contato direto com as garotas que trabalham na Bete Cuscuz. Pedimos que ela dividisse essa experiência de sua vida, com nós. Nessa entrevista, pude visualizar bem as diferenças entre as prostitutas e as acompanhantes. No caso, as motivações, que levaram cada uma dessas mulheres a optarem por essa vida, e essas motivações são formadas basicamente pela situação socioeconômica em que essas garotas se encontram. De um lado, as que não tem nem mesmo o que comer, isso as levou a optar por essa vida. Do outro lado, as que sentem falta de um padrão de vida elevado e estável, isso as levou a optar por essa atividade.
            Na realidade das garotas de luxo, elas sempre justificam sua escolha, porque querem estudar, e pagar uma faculdade. Mas o que pude observar, é que a maioria que usam essa justificativa, não são fixas em um lugar determinado, sempre indo aonde o lucro estiver mais rentável. O que me deixa mais revoltado com a vida que essas meninas se submetem, é saber que alguma delas tiveram uma segunda opção, mas que optaram por essa situação. Será que essas meninas não percebem, que estão destruindo a elas mesmas? Com esse segundo contato, só reforçou o meu posicionamento contrario a prostituição, podem falar o que quiser, mas continuo acreditando que essa não é uma vida saudável, muito menos digna. Essas meninas tem que serem alertadas sim, não podemos esquecer da responsabilidade social que cada um de nos, temos sobre as mudanças dessa realidade. Até mesmo quando  elas não quiserem mudanças, iremos gritar por mudança, e fazer por onde, para que essas mudanças aconteça. Sem esquecermos do respeito que devemos ter pelo direito a liberdade de escolha dessas mulheres, o que não significa dizer, que concordamos com a vida que elas levam.


24/03/2010 ( quarta-feira)                                                                                       11:36 h
3º CONTATO
( Visita ao 69 Drink´s )

            Depois de conversarmos com uma ex-prostituta e com alguém que teve uma experiência direta com essas mulheres, sentimos a necessidade de termos a nossa própria experiência com uma prostituta na ativa.
            Ontem a noite  eu e o valdemar, fomos ao 69 Drink´s, um bar bastante conhecido aqui em teresina, como ponto de prostituição. Chegamos no lugar por volta de 21:45 h.O estabelecimento ainda estava vazio, com poucos clientes. Eu particularmente estava muito apreensivo, pois até então, nunca tinha freqüentado um ambiente daquele tipo, quanto mais bater papo com uma daquelas mulheres. Só vinha na minha cabeça, a possibilidade, de sermos enxotados dali, ou até mesmo agredidos fisicamente, e o ambiente ser fechado não ajudou muito a me tranqüilizar. Mesmo apreensivo, demos continuidade a nossa visita. Entramos e logo sentamos em uma das mesas, logo em seguida duas belas mulheres, bastante jovens, uma teria 20 anos e a outra 24 anos, se aproximaram  e sentaram a nosso lado. Provavelmente, pensaram que ali iriam lucrar algum.
            Não demorou muito, e logo fomos nos identificando, como estudantes de direito, em seguida descemos o porque de estarmos ali. De uma forma bem sutil, fomos deslanchando a conversa, com perguntas diretas, sobre suas vidas na prostituição. Para minha surpresa as meninas aceitaram conversar com a gente, numa boa, contanto que não as filmassem. Nos trataram com toda a educação e dignidade a que merecíamos. Nos receberam e responderam nossas perguntas, fiquei besta, com o nível  de educação que elas demonstraram ter. O que nos abre os olhos para uma outra realidade, na vida dessas mulheres, já não são mais analfabetas, como antes. Hoje são mulheres instruídas,que possuem ate nível superior, existindo algumas exceções. Como por exemplo, uma das meninas aquém entrevistei, que encontravas se no 3º período de enfermagem, que segundo ela, banca seus estudos com o dinheiro da sua prostituição. Talvez isso seje um ponto positivo, pois quem sabe, atravez de sua formação, ela não saia da prostituição. Ou pode, passar apenas de uma ilusão do meu conciente.
            Nesse terceiro contato, eu ali frente a frente, com uma prostituta, no seu ambiente de trabalho, e escutando tudo o que ela tinha para dizer, foi muito marcante. Até então, eu num reconhecia aquelas mulheres, como seres humanos, e sim como aberrações da sociedade. Mas que agora eu as vejo como seres humanos igual a todos, em sua diferença. Lutamos tanto por liberdade, todos esses séculos, e porque elas não podem ser livres para escolher seu caminho? Já que essa escolha, não fere nem um direito de outro cidadão. Eu continuo sendo contra a prostituição, e tudo o que eu poder fazer para mudar essa realidade dessas mulheres, irei fazer. Mas reconheço que eu não tenho sido digno, no meu posicionamento, em relação a essas mulheres. A dignidade tem faltado na forma em que eu as trato, pois  o que me leva a acreditar que elas não são dignas de respeito como eu? Nem uma justificativa irá dar razão a essa afirmação, pois se elas me respeitaram no ambiente delas, porque eu num vou respeita-las?
            Temos que abrir nossos olhos, e vermos que se  cortarmos o direito a liberdade de escolha dessas mulheres, estaremos dando espaço para outrem cortar o nosso direito a liberdade de escolha, no futuro.  

`` Você é o que escolhe ser.´´

Cristóvão Alencar.

análise do filme de DAVID GALE: á luz dos textos(Caracterização da sociologia, do Galliano e teoria do caos, de Gian Danton )...

                                                         


            Com a teoria do caos de ´Gian Danton´ e a caracterização da sociologia do ´Galliano´ consegue-se visualizar, com mais clareza e realismo, o quanto é importante o papel do individuo no meio social. E observamos que o isolamento do mesmo, já não é mais possível a sua existência, se percebermos que uma determinada ação desse individuo, de forma direta ou indireta, pode vir a influenciar em um fato futuro, onde as consequências produzidas pela ação, pode se expandir e tomar grandes proporções no meio social, e essas conseguências não necessariamente iram atingir o mesmo meio em que esse individuo conviva. Essa relação de ação e conseguência, é o que ´Gian Danton´ na teoria do caos chamou  ´efeito borboleta´ .
            No filme de David Gale, podemos visualizar com bastante clareza, esse chamado efeito borboleta. Um momento do filme que me chamou a atenção para isso, é quando a aluna chega atrasada na aula. A partir deste acontecimento, ela se insinuou ao professor, que recusou, a aluna foi expulsa da universidade, e por isso já fora da universidade consegue o que queria com o professor, e pela sua revolta pessoal, denunciou ele como estuprador. Se pararmos e observarmos com a mínima atenção, a recusa do professor, construiu certo ódio na aluna, levando-a a forjar um estupro, onde o professor é acusado, e mesmo não sendo provado a autoria do crime, levou no futuro a acelerar o processo de pena de morte do professor, uma vez que o juiz considerou seu passado, como base parar tomar à decisão que o levaria a morte. E com a prova em mãos, de que David era inocente, puderam provar que o sistema a que eles pertenciam era falho. Com isso podendo ou não modificar o pensamento de realidade dos indivíduos de toda uma sociedade.
            E tendo esse mesmo fio de raciocínio, para podermos dar continuidade ao nosso entendimento, usando como base o texto do ´Galliano´, podemos observar pelo ponto de vista da sociologia, o quanto a interdependência humana faz referencia a necessidade do ser humano em viver em sociedade, dividindo normas para uma boa convivência em grupo, de forma tal que o isolamento não é possível para sua existência. Quando vemos que uma simples ação isolada de um único individuo, pode levar toda uma sociedade a refletir sobre o seu sistema de vida social. Isso leva a acreditarmos que todos nos estamos interligados, direto e indiretamente, no meio social em que vivemos. Com isso observamos a importância que devemos dar á reciprocidade de cada individuo em relação a seu papel social no meio em que vive. Exemplificando essas relações de reciprocidade, no filme ´A vida de David Gale´, podemos usar como exemplo a relação professor e aluna, onde esperava-se que a aluna tivesse uma postura de dedicação e estudo e do professor uma postura de disciplina e autoridade, pois esse era o papel social que cada um deveria prestar, no entanto nem um e nem o outro foram recíprocos para com seu papel, no sistema social a que eles serviam. E nesse mesmo exemplo podemos destacar o desvio de normas, como a traição do professor e a falta de pudor da aluna, desvios esses que ferem direto e indiretamente, a conduta social dos indivíduos que dividiam as mesmas normas com o professor e a aluna, naquela sociedade.
            No meio social funciona-se de forma planejada, baseando-se em normas, que ao mesmo tempo em que funciona como obrigações, se tornarão um direito adquirido, assim valido para todos os indivíduos desse mesmo sistema de normas. Esse planejamento funciona em grupos e subgrupos, e com essas ramificações vão surgindo diversas regras internas pertencentes individualmente a cada um desses subgrupos. Isso não significando que as normas do grupo principal que é a sociedade, deixaram de serem seguidas, afinal são elas que garantem a organização de todos os subgrupos dentro de um grupo principal, pois apesar de possuírem regras internas, todos seguem o mesmo sistema de normas. No filme podemos usar como exemplo de grupos e subgrupos, quando consideramos que as pessoas que discutem a pena de morte, é um grupo, nesse caso os subgrupos seriam os que são contra e os que são a favor, assim observamos que apesar de cada subgrupo possuir regras internas baseadas em seu ideal, os dois subgrupos fazem parte do mesmo sistema de normas, que mantem a ordem geral do grupo principal, ou seja, a sociedade do Texas que naquele momento discutia-se a pena de morte.
            As divisões de grupos chegam a ser algo sem fim, quando observamos que um mesmo individuo pode participar de diversos subgrupos diferentes. Ao mesmo tempo limitada, quando a participação em um determinado grupo possa impedir que esse individuo de participar de outro determinado grupo. No filme vemos isso, quando o professor que participa do grupo que é contra a pena de morte mas, no entanto ele consegui conciliar a participação neste grupo, com a participação no grupo dos alcoólicos anônimos. No entanto a participação nos alcoólicos anônimos limita sua participação em grupos como o de professores da universidade em que trabalhava, e o de pessoas dentro dos padrões sociais.
            Esses padrões produzidos por necessidades do meio social, são indispensáveis para mantermos a ordem em nosso meio. E a sociedade para que ela exista, é necessário que ela possua determinadas características, as principais são: a definição territorial, a manutenção pela reprodução social, a cultura auto-suficiente e a independência. E dessas características, para que seja de fato uma sociedade para a sociologia, a principal é a cultura auto-suficiente pois essa demanda crença, moral, conhecimento, arte, lei, tantos fatores que são necessários para a manutenção da vida em sociedade.
            Quando refletimos sobre os dois textos dados a analise do filme, percebemos que um completa o entendimento com o outro, mesmo observando que cada um possui níveis de complexidade de entendimento diferentes. Vemos isso, no efeito borboleta, segundo a ordem e desordem de Galliano, a desordem não significa necessariamente caos, e no caso da teoria do caos tudo não parece obedecer a seqüência lógica, mas gera mais informação como prevê a teoria. Ao final da reflexão com todos os conhecimentos obtidos e aproximados da realidade, consegui desconstruir vários preconceitos criados por mim, já que minha visão natural da vida, não permitia que visse sua complexidade por um ângulo mais amplo. Posso usar como exemplo do filme, a questão dos acusados estarem na pena de morte, havia em mim um preconceito que me levava a pensar que pelo fato do individuo chegar ao nível de pena de morte, alguma culpa ele tinha, desconstrui esse preconceito quando no filme, foi mostrado que existe a possibilidade de um individuo ter chegado aquela situação extrema, e assim mesmo possuir a inocência.Com esses preconceitos desconstruidos temos uma liberdade maior para pensarmos e refletirmos sobre o sistema a que pertencemos  e servimos . 

                                                                                                                     por Cristovão Alencar

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Analise do filme "Um sonho de liberdade" á luz dos estudos de Foucault.

                        

           Começamos a estudar a conferencia V de Foucault, que trata sobre a prisão e o funcionamento desse sistema como instituição de sequestro na sociedade. Nesse sentido, nos vem o questionamento do que seria esta instituição de sequestro. A prisão, como uma instituição de sequestro, visava com o sequestro do individuo, reconstruí-lo e adapta-lo para assim o inserir na sociedade posteriormente. Assim, o individuo seria o "criminoso" que era visto como uma anormalidade, um marginal, pois teria quebrado as regras do contrato social que aceitou tacitamente, sujeitando-se as suas sanções.

            A primeira função dessas instituições de sequestro, é a extração da totalidade do tempo do individuo, tendo como exemplo a fabrica-prisão, que em sua época de funcionamento, toma por total o tempo do individuo. A segunda função é não mais de controlar o tempo dos indivíduos, mas de controlar simplesmente seus corpos. E pra mim essa segunda função é a que mais está presente em nossas vivencias sociais, na construção do individuo, pois somos a todo tempo "adestrados" para ficarmos conforme o sistema a que servimos. Nestas instituições existem duas formas de poder, o polimorfo e o epistemológico, o primeiro é constituído pelo poder econômica, político e judiciário, o segundo trata-se do poder de extrair o saber dos indivíduos.

            Tratam-se de formas de adequação dos indivíduos na sociedade, pois no passado era o fato do individuo pertencer a um grupo que se era possível faze-lo vigiado. Já nestas instituições de sequestro, que se formaram no século XIX não é de forma alguma por pertencer a um grupo que ele é vigiado, ao contrário, é justamente por ser um individuo que ele se encontra colocado em uma instituição, sendo ela que irá constituir o grupo, a coletividade que será vigiada. Pois antes o individuo que cometia um crime, era excluído por total do meio social, já hoje, com estas instituições, já se reconhece a necessidade de reclusão desse individuo no meio social. Trata-se da inclusão pela exclusão, no caso da prisão, o individuo  é excluído do seio social, para ser reconstruído de forma que o mesmo possa vir a ser devolvido ao meio futuramente, e o mais importante, que se adapte a realidade desse meio.

           Adentrado nos assuntos que a conferencia tratou, nos foi proposto o filme "Um sonho de liberdade", para que com mais clareza, pudéssemos visualizar toda a teoria em nossa realidade social. Naquelas imagens pudemos enxergar as escrituras, avaliações e principalmente criticas de Foucault, pois é o posicionamento critico do individuo diante da coletividade, que poderá proporciona-lo o experimento de uma possível liberdade. Foucault acreditava que era a contra posição do individuo em relação aos problemas que o cercava em seu meio, que se era possível fazer acontecer um desenvolvimento e transformação social. Nesse pensamento, em analise ao filme, não pude deixar, de criar em minha pessoa, uma indignação, em relação ao sistema prisional ali presente, assim me refiro á não eficácia do sistema, proposto como instituição de sequestro, que garantiria a reconstrução do individuo. A privação da liberdade na verdade estava bem longe de cumprir o que se esperava dela, pois a questão da sobrevivência na prisão obrigava as pessoas a desenvolverem funções que o sistema reprovaria.

            No filme, podemos observar um homem que fora daquele sistema tinha uma conduta reta e honesta diante da sociedade, e ali, na prisão, teve que se abster dessa conduta honesta, por motivos de sobrevivência. Neste aspecto é que podemos observar o posicionamento critico que Foucault tanto defende.

            Em continuidade ao estudo, o "contra-poder", que nada mais é, o individuo que vai contra uma normalidade pré-estabelecida, por um sistema presente, acaba sendo o individuo descentralizador das normas do sistema, causando pequenas mudanças que unidas a outras pequenas mudanças, talvez seja capaz de mudar o sistema, se não no todo, pelo menos em parte. Quero deixar bem claro que não sou contra, de forma alguma, as normas sociais que aqui dividimos, reconheço a necessidade de suas existências, para assim poder se ter uma harmonização da convivência entre os seres, em uma sociedade cada vez mais pluralizada. O que sou contra é a passividade desses indivíduos, em relação ao aceitamento por total de um sistema falho, por simples comodismo pessoal, pois vivendo em sociedade, temos que reconhecer que somos interligados uns aos outros nessa dinâmica social.

             Com esse pensamento, conclui-se com Foucault, que ser critico não é ser contrario, e sim ter a capacidade de reconhecer as falhas de um sistema que precisa ser melhorado, de forma que possamos atingir a evolução social dos indivíduos, não como parte e sim como todo. A sociedade é algo a ser tratada e jamais ignorada. Ter a consciência que um sistema normatizador é necessário pra o funcionamento de uma sociedade, mas que esse sistema tem que suprir as necessidades da mesma, é o primeiro passo. No entanto, é necessário que tenhamos em mente que somos nós, os componentes desse meio, que fará acontecer esse suprimento que tanto necessitamos. Essa consciência servirá para modificarmos o real funcionamento desse sistema, pois sabemos que ele, por muitas vezes, foi/é falho.
           


"A felicidade é conceituada de forma equivalente ao sistema á que servimos"



Cristóvão alencar

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A lei da Ficha Limpa e seus reflexos na sociedade.

                                               

A muito tem se discutido sobre a lei FICHA LIMPA, e os reflexos da mesma em nossa sociedade. Concordo com o pensamento, quando falam que temos que acabar com a blindagem dos nossos políticos, que fazem o que bem entendem, sem sofrerem as devidas punições. Esse pensamento é mais do que justo quando vivemos em uma realidade de total libertinagem política, em que a todo momento temos nossa participação democrática ferida.

Deixo bem claro, que sou plenamente a favor da lei, mas totalmente contra a sua aplicação nessas eleições. Ainda não tenho a certeza até que ponto essa lei será eficaz, quando observamos que a corrupção esta presente em nosso país tão clara e abertamente, e as autoridades nada fazem para mudar essa realidade. Foi preciso um projeto de lei, de iniciativa popular, para que se escancare não a corrupção dos nossos representantes, por que essa já esta por de mais escancarada, mas sim a revolta de uma nação que não aguenta mais ter a sua cidadania desqualificada pelos seus representantes. E é com esse discurso que a mídia esta batendo firme, pressionando o STF a votar a favor da aplicação dessa lei, nessas eleições. E a sociedade, por não saber o real perigo dessa decisão, acaba seguindo duramente o que a mídia tem exposto. Aqui não critico a mídia, reconheço a importância do seu papel em nossa sociedade.

Mas quando me deparo com essa situação, logo me vem a mente, a história de Cristo, um bom homem, que de criminoso nada tinha, mas foi crucificado porque assim o povo entendeu que deveria ser, a ponto de gritarem a sua morte nas ruas de Jerusalém. O que comparamos não é de forma alguma os políticos á Cristo, porque dele nada nossos representantes tem tido, comparamos a situação de manipulação  de um povo sem conhecimento das leis. Naquela época, Cristo foi crucificado, hoje podemos estar abrindo um precedente para que nossos direitos adquiridos sejam crucificados no futuro. Por isso aqui estou para lembrar da responsabilidade das instituições democráticas, que devem objetivar em suas decisões o melhor para a sociedade, mesmo que a própria sociedade não reconheça como tal. Schimitt já alertava que as massas e a maioria são preocupantes, a ponto de uma democracia vir a se tornar uma ditadura. Posso citar o exemplo de Hitler, que, manipulando a sociedade Alemã, os fez acreditar que aquele regime era o justo.

            A Ficha Limpa está revolucionando a segurança jurídica do nosso país. Flexibilizando um principio sagrado e constitucional, a "presunção da inocência" por considerar condenado e culpado quem ainda não foi assim considerado no final de um processo transitado em julgado, como poderá ser aplicada como lei retroativa para prejudicar (Reformatio inpejus). Aqui há a violação de outro principio, que garante que uma lei só retroage no tempo para beneficiar o cidadão (irretroatividade da lei). Portanto, quando vejo algo dessa natureza de violar com todo destemor os mais básicos princípios que regem a nossa constituição, isso é de deixar qualquer cidadão pasmo. Estamos vivendo uma ´´mutilação jurídica´´, num retrocesso triste e deprimente. De forma alguma defendo os políticos , mas a nós cidadãos, pois é muito preocupante vermos tribunais superiores descumprirem princípios constitucionais básicos, assim a carta Magna Brasileira  que é uma carta rígida, esta parecendo uma carta flexível.

            Compreendo a demora do STF em decidir essa situação, se reconhecermos que compartilhamos uma constituição por demais extensa e que nela encontramos fundamentos concretos e sustentáveis, tanto para os que são a favor, quanto para os que são contra á aplicação da lei Ficha Limpa nesse ano de eleições. Devemos ter a devida paciência para esperarmos uma decisão justa, que realmente venha como suprimento de uma necessidade real da sociedade. Mas o que peço, alias, exijo , do STF, é que tenha coragem para decidir essa situação o mais breve possível, e reconheça que optando por aplicar essa lei nesse ano, poderá muito mais atingir negativamente  do  que positivamente os cidadãos.

 Os que defendem a favor dizem que não se encaixa irretroatividade da lei, mas sim o artigo 14 da constituição, que diz que o candidato poderá se tornar inelegível pelo mal cumprimento do seu mandato.Essa interpretação, se seguida, abrirá precedente para que, no futuro, outros possam  interpretar de modo contrário. E depois do precedente aberto, podemos ter certeza de que não serão os políticos que serão penalizados, mas nós cidadãos, que, a todo momento, estamos sendo usados como marionetes em uma brincadeira de gente grande. É inaceitável uma situação, em que a própria constituição, a que nos constitui como nação, seja desrespeitada em praça publica, sem que ninguém tome uma atitude. Se não a constituição, quem irá garantir a nossa segurança nesse país?

Não podemos deixar que nos manipulem por um sentimento de vingança contra nossos representantes, pois será esse mesmo sentimento desmedido, que estará pondo nosso ´´pescoço na corda´´. Por tanto, o que esperamos do STF, é a mínima coragem para se posicionar não a favor de uma maioria manipulada por tal sentimento, mas de toda uma sociedade que aguarda uma decisão justa e coerente com nossa constituição, uma vez que tem a função de nos proteger dos perigos da instabilidade política desse pais.

                                                                                                      Cristóvão Alencar....