sexta-feira, 6 de maio de 2011

"O tratamento da psicopatia em nossa realidade carcerária."

INTRODUÇÃO
 
            Vivemos em uma sociedade cada vez mais violenta, onde nem mesmo temos mais a coragem de sairmos de casa cedo da noite. E como a criminalidade vem aumentando, as instituições disciplinadoras, tem visto como resposta, para tal problema, o encarceramento dos indivíduos criminosos, que tem causado a desordem em nosso meio. E para aplicar a pena de retenção de liberdade, essas instituições se apóiam, na justificativa de re-socialização desses indivíduos. Mas o que temos observado é que essa retenção de liberdade só tem aumentado mais e mais a criminalidade em nossa sociedade, quando vemos que essa re-socialização não tem existido, justamente pela falta de locais e tratamentos necessários para que esses indivíduos sejam inseridos novamente na sociedade.
              O que temos feito é uma reformulação desses indivíduos criminosos, onde a cada retenção de liberdade que sofrem, se afastam cada vez mais da inserção social. Para que mude essa realidade as instituições responsáveis, deveriam conhecer a realidade de cada preso, para problematizarem o estado do individuo, na tentativa de reformular não um criminoso, mas um novo cidadão. Exemplo de uma categoria de criminosos, que em nada essas instituições tem ajudado na sua re-socialização, é a dos que possuem a personalidade psicopata. Onde esses precisão de um tratamento diferenciado e adequado para seus distúrbios sociais e também mentais. Mas na realidade esses indivíduos são apenas jogados e amontoados, em celas, com tratamento desumano e impróprio para uma promessa de re-socialização. E esse artigo tratará justamente da realidade de desequilíbrio mental desses indivíduos que chegam a cometer delitos, os psicopatas, e a necessidade de um tratamento próprio, para que os mesmos quando soltos, não voltem a cometerem delitos contra a sociedade.
            Grita-se aqui não por penas mais brandas para indivíduos que cometeram crimes contra a sociedade, mas um tratamento adequado para que esses mesmo indivíduos não continuem representando perigo para nós mesmos. Aqui gritamos por uma ordem social, que realmente exista, e não por promessas de instituições, que tem falhado na manutenção da ordem. Lembremos que o direito não deve apenas manter a ordem, mas também deve trazer transformações quando necessário, para que uma nova ordem surja, e garanta a nossa segurança de fato.


´´O tratamento da psicopatia em nossa realidade carcerária.´´
 
            A psicopatia apesar de não ser algo novo em nossa realidade social, ainda é uma discursão muito recente, a sociedade em geral e as instituições que a representa pouco sabe sobre esse transtorno psicológico. E para se discutir sobre isso, é necessário conceituar o que seria a psicopatia. E conceituar esse transtorno não se é tão fácil quanto parece, pois seria muito perigoso liberarmos um conceito generalizando uma realidade que em muitas vezes se faz individual, tendo em vista que o ser humano é um ser anômalo, sendo as suas ações imprevisíveis e incertas. O que aqui podemos fazer é tentar reconhecer algumas das características do individuo que carrega em si a psicopatia.
Psicopata, a rigor designa um individuo clinicamente perverso que tem personalidade psicopata. Muito se confunde a psicopatia com o transtorno de personalidade anti-social, mas para a psiquiatria forense, transtorno de personalidade anti-social e psicopatias são distúrbios parecidos, mas não são iguais, tendo cada um suas particularidades. O Transtorno de personalidade anti-social, refere-se a pessoas que entre outras coisas, não sentem remorsos em lesar e tirar vantagem sobre os outros, já o psicopata tem um transtorno de personalidade anti-social mais severo, uma vez que alem de não sentir remorso, sente prazer em causar sofrimento a outro.
            O psicopata tem como características: comportamento irresponsável, explorador e insensível, com ausência de remorso; são narcisistas e egocêntricos; são abeis para contar mentiras; costumam ter inteligência a cima da media, simpatia, lábia e tem facilidade em convencer as pessoas; têm suas próprias regras e é comum não seguir leis, caso não concorde com elas; possuem baixa tolerância á frustrações, e quando contrariados podem tornar-se agressivos; manipulam os outros em proveito próprio, metem e chantageiam; não aprendem com seus próprios erros e são capazes de passar por cima de qualquer um, inclusive pela família, para conseguirem o que querem, e agem racionalmente em seus atos criminosos. È claro que trata-se de características genéricas, onde se poderia encontrar um individuo com personalidade psicopata, que possuísse suas próprias características, até contrarias as descritas aqui. Por isso que para se chegar a um diagnostico mais preciso, necessário se faz a presença de  profissionais capacitados para diagnosticar tal transtorno em um determinado individuo.
            Analisando essas características não é difícil entender o porque desses indivíduos com personalidade psicopata, muitas vezes acabarem indo contra a sociedade, cometendo delitos, chegando a ser preso e condenado. Pois um individuo, que não consegue seguir normas, em uma sociedade cada vez mais disciplinadora, já mais conseguiria permanecer em equilíbrio com esse meio. E se os psicopatas acabam por muitas vezes representando um perigo para a sociedade, as instituições disciplinadoras tem por obrigação manter a ordem social, retendo esses indivíduos em um isolamento. O problema é que as instituições apenas tem cumprido a primeira parte das obrigações, que é rete-los, mas quando se diz respeito a dar suporte para que eles possam se reintegrarem novamente na sociedade, em nada temos visto valer.
                                                                                
            Michel Foucault, já observava esse problema presente nas sociedades, desde a sua época. E relata muito bem em sua obra ´´ A história da loucura´´, a falha das instituições disciplinadoras, que no passado separava todos aqueles que eram tidos como ´´loucos´´ e os enviava para um lugar distante da sociedade, aonde eles eram apenas alimentados e enjaulados, mas em nada eram tratados em seus distúrbios mentais, e ai dava inicio aos chamados manicômios. Isso só aumentava o problema, tendo em vista que esses só cometiam crimes justamente por terem problemas mentais e não estarem inseridos no seio social, então não seria retira-los por total da sociedade, a solução para o problema. Da época de Foucault para hoje, essa realidade não mudou muito. Assim observamos que o erro esta persistindo desde o inicio, e tanto tempo se passou e em nada foi feito para se mudar essa realidade desumana. As novas gerações repetem os mesmos erros das gerações passadas, e produzem uma sociedade cada vez mais violenta e desumana para as gerações futuras, quando observamos que esses indivíduos quando soltos, sem o devido tratamento, voltam quase sempre a cometer delitos contra a sociedade, e em muitas vezes em um estado de desequilíbrio bem pior do que se encontrava, quando preso.
                                                                                    
Devemos parar por aqui, e analisar onde esta o erro persistido, e mudar o tratamento com esses indivíduos anti-sociais, na tentativa de inseri-los novamente na sociedade. Isso é o que Foucault chamava de contra poder, que seria aqueles indivíduos que iriam contra as falhas do sistema e não contra o sistema em si. Pois sabemos o quão é necessário a existência das instituições disciplinadoras, para assim poder se ter uma harmonização da convivência entre os seres. E seguindo a linha de raciocínio de Foucault entendemos que ser critico, não é ser contrario, e sim a favor, a favor do melhoramento social dos indivíduos, não como parte e sim como todo.  Os problemas sociais é algo a ser tratado, jamais ignorado.
            Um exemplo de contra poder que podemos ter hoje, é o projeto ´´ Pai PJ´´, que conhecendo a realidade dos pacientes judiciais, com o transtorno de psicopatia, tenta fazer um trabalho especial juntamente com as instituições disciplinadoras, na tentativa de re-inseri na sociedade, esses cidadãos, que por possuírem esse transtorno de psicopatia, acabam transgredindo as normas do nosso ordenamento jurídico, que por sua vez agridem os valores de nossa sociedade.  Esse tratamento especial para com esses presos, vai de contra as falhas do sistema carcerário, tentando assim reformula-lo e readapta-lo a uma realidade que grita por socorro. Uma vez que sabemos que em nosso ordenamento jurídico já existe regulamentado o decreto nº 24.559, de 3 de julho de 1934, dispondo sobre assistência e proteção á pessoa e os bens do psicopata, e é importante ressaltar que tanto o ´´ Pai PJ´´ como o decreto visam a proteção e a integridade física do individuo dando-lhe a assistência necessária e buscando a melhor forma para a re-socialização do individuo na sociedade , mas em nada as instituições carcerárias tem respeitado a situação desses ´´presos especiais´´.
                                                                             
O projeto ´´ Pai PJ´´, acontece no estado de Minas Gerais, na cidade de Belo Horizonte, que tem como principal idealizadora a psicanalista e professora, Fernanda Otoni. Onde já se passaram mais de 400 presos, com transtornos psicológicos, e que receberam um tratamento próprio para suas necessidades mentais, envolvendo ciência, tolerância e arte, dispensando os métodos medievais e ultrapassados, á base de violência, que ainda são utilizados em diversas partes do nosso pais e do mundo.   O conteúdo do projeto ´´Pai PJ´´, baseia-se no fundamento da dignidade da pessoa humana reconhecido na constituição federal de 1988, concedendo unidade aos direitos e garantias fundamentais, sendo inerente às personalidades humanas, assim respeitando as questões voltadas aos direitos humanos.
E atendendo o artigo 196  da constituição federal..´´A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco da doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,proteção e recuperação´´. Contrariando assim as políticas dos manicômios que trata com descaso e de forma desumana o indivíduo que necessita de auxilio psiquiátrico adequado as suas necessidades mentais. O ´´ Pai PJ ´´ e o decreto em visão generalizada foram criados para extinguir essa forma de tratamento dos criminosos psicopatas. E a resposta que as instituições dão, para a não adequação do sistema ao devido tratamento, é a falta de estrutura. Mas se nada for feito, nunca ira mudar essa estrutura falha, onde em nada tem servido para a re-socialização desses criminosos mentais, a não ser para enjaula-los e aprisiona-los para sempre em seu estado de perturbação mental, agravando mais ainda seu processo de desequilíbrio, em uma situação triste e deprimente.
Será se nós componentes dessa sociedade, também não somos responsáveis por o que se passa em nosso país? Seremos omissos a mais essa situação? Pois queremos aqui destacar que foi por parte de oito estudantes de psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, sensíveis ao meio em que vivem, que surgiu o Pai PJ. E são atitudes como essa que precisamos compartilhar mais, para que possamos ver o nosso país se desenvolver. O pessimismo e o individualismo do brasileiro, por muitas vezes tem o atrapalhado em visualizar a solução para os problemas que é vivenciado aqui em nosso território. Pois os pacientes judiciais, os também conhecidos como loucos, um dia já foram tidos como caso perdido, e o projeto desses estudantes, veio mostrar o contrario, que esses cidadãos, que por algum determinado motivo, juntamente com seu estado de desequilíbrio metal bárbaro, tenham cometido algum delito, têm a possibilidades de se restabelecerem na sociedade, mas que para isso aconteça, deve-se presta-lhe o devido acompanhamento medico e social.
Segundo os números levantados pelo ´´ Pai PJ´´ , dos pacientes judiciais que passaram pelo tratamento especial e próprio pra suas necessidades mentais individuais, 70% não reincidiram a vida criminosa, voltando a ter uma vida normal na sociedade. Onde muitos hoje, estudam, trabalham, fazem arte e realizam muitas outras atividades, que antes com seu problema mental em um nível de desequilíbrio bastante elevado não se era possível. Os outros 30% se trata de indivíduos com um nível de psicopatia tão avançado, que ate a racionalidade, que é uma das fortes características dos psicopatas, não se é mais visível nesse estagio da doença. Com esses números podemos observar o quanto é necessário e eficaz, dar um tratamento diferenciado para esses cidadãos, tendo em vista que até mesmo se tivessem passado pelo tratamento antes, nem mesmo teriam cometido delitos, e assim a violência não teria gritado em nossas portas.
Mas esse possível tratamento diferenciado para com esses indivíduos gerou uma grande discursão entorno do artigo 26 do código penal, onde trata da imputabilidade do criminoso, discorrendo o seguinte texto:
´´Artigo 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era ,ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.´´
 ´´Parágrafo único.A pena pode ser reduzida de um terço a dois terços,se o agente,em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.´´
A discursão seria exatamente se o transtorno de psicopatia se enquadraria no texto do artigo, tendo em vista que a psicopatia trata-se de um transtorno mental. E por mais simples que seja em tese, na pratica a doutrina tem uma grande dificuldade de chegar a uma conclusão sobre a imputabilidade do réu . E quando se trata de psicopatia a dificuldade é bem maior, pois trata-se sim de um transtorno mental, mas que o individuo age com racionalidade ao cometer um delito. Então como saber se o individuo psicopata teria a capacidade de discernimento na hora do ato praticado? Não sendo algo tão fácil de se resolver, o que o judiciário tem feito para resolver esse problema, é se atentado aos diagnósticos dos profissionais da saúde, onde esses são mais capazes de distingui se o réu com psicopatia, teria o discernimento do ilícito, no momento do crime praticado. Seguindo esse diagnostico, é sabido que a psicopatia tem vários estágios de agravo da doença, surgindo ai as categorias de psicopatia, com isso o judiciário tem entendido que o psicopata criminoso, não será enquadrado no texto do artigo 26 do código penal, a não ser que se encontre em um estagio bem avançado da doença e que por isso o discernimento já não é presente em si, assim entendido esse poderá ser considerado como semi-imputavel.      
            A semi-imputabilidade, redução da capacidade de compreensão ou vontade, não exclui a imputabilidade. Sendo constatada, o juiz poderá reduzir a pena de 1/3 a 2/3 ou impor medida de segurança, mas para aplicar a medida de segurança é necessário que o laudo de insanidade mental indique como recomendável essa opção. Caso não venha no laudo essa indicação e recaindo a escolha sobre a pena o juiz estará obrigado a diminuí-la de 1/3 a 2/3, conforme o grau de perturbação, seguindo assim o que esta disposto, no artigo 26 do código penal. Mas o objetivo do ´´Pai PJ´´  não é punir isoladamente o ato do criminoso com problemas mentais(psicopatas), mas tratar a insanidade do indivíduo auxiliando  a autoridade judicial na individualização da aplicação e execução das penas e medidas de segurança, de acordo com o previsto na legislação penal vigente, viabilizando a acessibilidade dos direitos fundamentais. Deixando para trás o velho e desumano modo de tratamento do manicômios, hospícios, tratados nestes como animais.   
                                                                        
            E falando em legislação de direitos garantidos, ao analisarmos o tal decreto n° 24.559, de 3 de julho de 1934, podemos observar que mesmo tratando da proteção da integridade física e mental do individuo psicopata, também nos atentamos para o envelhecimento da letra desse decreto, quando vemos que lá ainda se trata de manicômios, como medida de tratamento para esses indivíduos. Mas hoje já sabemos que o tratamento que esses tipos de estabelecimentos fornecem para os doentes mentais, não é nem de longe o mais adequado para suas necessidades mentais. È claro que o decreto ainda é um instrumento para que possamos viabilizar um tratamento mais humano, para esses indivíduos, mas não exclui a necessidade do nosso poder legislativo produzir leis mais atualizadas e próximas da nossa realidade, do mesmo jeito destacamos a responsabilidade do poder executivo de dispor de uma estrutura que possa tornar possível a aplicação da lei a esses cidadãos.


CONCLUSÃO

            Com os estudos realizados sobre o tema, podemos observar o quanto um tratamento diferenciado para com esses indivíduos psicopatas, pode evitar uma dor de cabeça maior para nós no futuro. Pois re-socializando estes, poderemos viver se não com segurança, pelo menos com um pouco mais de liberdade, pois estaremos deixando de produzir mais um criminoso, que estará a solta nas ruas. Tendo em vista que o tratamento tem sido eficaz na maioria dos indivíduos que passaram pelas mãos do ´´ Pai PJ´´.
            Mas também não será um pequeno projeto que irá mudar toda uma realidade de insegurança social, em nosso país. Para que a eficácia do ´´ Pai PJ´´ se prolongue no tempo e no espaço, é necessário que outras instituições apostem na  causa. Claro que uma grande mudança, demanda um grande tempo, mas só se tem mudança se tiver atitude e boa vontade de realiza-la. Hoje em Goiânia-GO já se discute a possibilidade de levar o projeto do ´´ Pai PJ´´  para sua realidade carcerária, ainda esta em discursão, mas é discutindo um problema que se conhece sua gravidade, é conhecendo sua gravidade que se pensa em uma solução.   
Com tudo podemos chegar a uma única conclusão, que o nosso direito ainda esta longe de acompanhar a nossa realidade social, é como se a sociedade caminhasse 3 passos e o direito 1. Mas também não queremos dar um enfoque apenas jurídico, mas também da responsabilidade social, não apenas das instituições que nos representam, mas responsabilidade nossa para com os problemas de nosso meio.
                                                       

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Analise do filme ´´Kaspar hauser´´: sobre a luz dos textos de Roque de Barros Laraia



Da cultura civilizada, á um isolamento particular

            Começo á escrever, com uma imensa tristeza em meu coração, pois antes convicto de que pertencia a uma cultura justa e correta, hoje já não sei se compartilho dessa mesma opinião. Ao assistir a história de Kaspar Hauser, pude ver claramente, o quanto a cultura condiciona a visão de mundo do homem. A ponto de acreditarmos duramente que aquele modo civilizado de viver, é o mais correto a se seguir.
            Kaspar, um homem isolado dessa sociedade civilizada, sem conhecimento do bem e do mal, em sua mais ingênua natureza humana. Encontrado nesse estado e logo tido como louco. Á todo momento mutilado em seu estado natural, na tentativa de á duras penas, ser encaixado em uma realidade cultural totalmente diferente da sua. Para ele, aquele mundo, totalmente novo, de nada o servia. Para os ´´homens civilizados´´, ali se encontrará um homem, em uma situação triste e deprimente, que precisava urgentemente de uma socialização.
            Nesse processo, o de socialização de kaspar, dois momentos me marcaram profundamente. O primeiro, quando Kaspar, ver as canções dedicadas á nosso tão exaltado Deus, e as compara com uma gritaria de horrores de uma guerra. Cheguei a me questionar, se nosso Deus não passa de uma criação cultural do homem, mas logo me recompôs e lembrei de quão GRANDIOSO é nosso DEUS, operador de milagres esplendidos em nossas vidas. Mas mesmo assim meu coração não sossegou, e me questiono, mesmo que DEUS seja real e não uma criação cultural, será se a forma de exalta-lo é a correta?E ai vem-me uma tristeza profunda, que me tira o sossego. O segundo momento, foi quando Kaspar deparou, com uma realidade já mais vista, por ele, quando ele percebe que todos o desprezava. Aqui percebi que ate a solidão, é uma criação cultural, pois ele viveu toda sua vida sozinho, e nunca se sentiu só, e quando ele justamente é inserido no meio dos homens, ele se senti solitário. Daí Kaspar jamais seria o mesmo, ele perceberá a principal preocupação do homem, sempre querendo esta no centro das atenções, em uma individualidade, mais triste que a própria solidão. Kaspar já não pertenci aquele mundo desconhecido, agora pertenci ao mundo dos homens, os ´´civilizados´´.
            Segundo Laraia, a cultura também interfere no plano biológico do homem, confesso que um pensamento difícil de ser seguido por mim. Mas ao analisar a situação, daquele homem isolado, tomando por base a minha própria situação, pude perceber com mais clareza , o quanto a nossa cultura nos prende em uma sistematização condicionada até em algo tão natural, como nosso funcionamento biológico. A vontade de comer, nossas necessidades fisiológicas, coisas tão primarias do homem, mas que mesmo assim não conseguiram se ver livres dessa ´´manipulação cultural sistematizada´´. Com a historia de Kaspar, podemos ver como esse processo de socialização age sobre nós, e como age.
            Pude observar também, a questão da participação do individuo no meio cultural, e percebi que não importa o quanto nos esforcemos, para nos adaptarmos a esse sistema, nunca conseguiremos atingir um nível de socialização suficientemente, pois ela não é 100%. Por isso existem certos limites em nosso meio, para que assim conseguirmos seguir essa cultura, esses limites podem ser de idade, de nível intelectual, de gênero etc. Isso acaba nos levando á seguirmos uma cultura, sem questiona-la, mesmo que isso nos torne alienados em nossa própria realidade cultural, mas valido se conseguirmos sermos ao menos aceitos em nosso meio cultural. Essa alienação nos faz acreditar que a cultura tem uma lógica própria. Mas no filme pude perceber, que o que é lógico para mim, pode não ser tão lógico para um individuo, que carrega uma outra carga cultural. Exemplo disso, é quando Kaspar, é levado a acreditar que DEUS criou o mundo do nada, isso é uma coisa bastante lógica para nós,que compartilhamos de uma cultura totalmente cristã, mas para ele, que não pertencia aquela cultura até então, era algo inimaginável .
            Com que direito as pessoas questionam o modo de viver do outro? Com tamanha petulância, de achar que o seu modo de viver é o mais correto, o mais justo. Não venho aqui entrar no mérito da discussão, levantando a idéia de que viver em sociedade não é necessário, pois é mais que necessário, é fundamental para nossa sobrevivência. Mas creio que cada um tem o seu próprio modo de compartilhar sua realidade social, sem que seja necessário invadir o espaço e os valores do outro. No filme, em um certo momento, perguntaram para kaspar o seguinte: Como era sua vida antes?E ele respondeu:MELHOR QUE AGORA.
            Faço das minhas palavras a de Kaspar Hauser, e expresso aqui a minha mais profunda indignação com essa civilização. Que a todo tempo grita paz, mas que na verdade agi em horrores de uma guerra. Tomemos Kaspas, como exemplo, para refletirmos sobre nosso modo de viver, e observarmos aonde de fato temos posto nossos valores. Rosseau já dizia que o homem nasci puro, é a sociedade quem o contamina. Essa é a realidade vista por Rosseau na sua época, e a realidade vista por mim em minha época. Então o que iremos fazer? Iremos ficar parados e concordamos com tudo isso? Ou levantaremos do nosso circulo individualista, e mudaremos toda essa realidade? Eu os digo o que faremos, usaremos a nossa pureza natural, para purificar as ruelas dessas sociedades contaminadas e contaminadoras. Como podemos permitir que a cultura manipule, aquele que proprio a inventou?
                             http://www.youtube.com/watch?v=08BXuNmIpgI&feature=player_detailpage  (voces podem conseguir o filme no youtube, ele esta dividido em 11 partes de 10 minutos)

                                                                                                     Cristovão Alencar
           

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

ARTIGO SOBRE O BULLYING: até quando vamos perder uma vida, para não perder a piada?

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TERROR, PODER E SOCIEDADE: UMA VISÃO ANTROPOLÓGICA DAS NATUREZAS DO BULLYING





Resumo:

Este artigo busca a identificar de que forma a Antropologia e as Ciências Sociais em geral podem explicar as origens do fenômeno conhecido como bullying, querela social que tem tomado grande espaço na mídia nos últimos tempos. A presente obra se divide em três partes: na primeira, há uma apresentação sobre o tema do trabalho, seus objetivos, a metodologia utilizada e relevância do tema. Na segunda parte, é feita a exposição do tema com base no arcabouço teórico e as observações obtidas em relação ao corpus selecionado. Por fim, num terceiro momento retomamos as observações realizadas junto ao corpus, apresentando as soluções impetradas acerca dos questionamentos propostos.


Palavras-chave: Bullying, Violência, Antropologia, Sociedade.


INTRODUÇÃO[1]

            Estudos históricos e antropológicos têm demonstrado através dos tempos que a força e o medo tem sido grandes armas da Humanidade na condição de autodefesa e exploração do semelhante. Inclusive, uma das teorias mais famosas acerca da criação do Estado versa sobre esses termos, quando Thomas Hobbes (1588-1679) propôs que num Estado de Natureza a força física promovesse a supremacia de uns sobre outros e apenas o medo de um soberano poderoso e implacável poderia aplacar a instabilidade que essa condição natural implicaria aos homens.

            Ainda que Hobbes jamais tivesse elaborado sua visão sobre a origem do Estado, procedendo uma análise criteriosa da História humana, percebe-se naturalmente que dentro das variadas esferas sociais, o jogo da intimidação de um homem sobre outro praticamente é uma característica inerente e cujas razões podem ser das mais variadas, seja a obtenção de algum benefício (um político que ameaça publicar imagens comprometedoras de seu adversário na disputa por um cargo), ensinar alguma lição (o pai que surra o filho por suas travessuras) ou pelo mero instinto sádico que o ser humano demonstra para com os outros (as gargalhadas que soam quando se caçoa do colega desastrado). Com a evolução das discussões sobre os direitos humanos, especialmente na segunda metade do século XX, muitas dessas ações de intimidação alcançaram o caráter de crime, tais como a coação e a violência doméstica. No entanto, ainda protegido sob a égide de “brincadeira” ou pela própria inoperância das ações repressoras, o acossamento permaneceu incólume até ser devidamente alvo de pesquisas na Europa, demonstrando seu caráter danoso à formação da pessoa humana.

            Conhecido na língua inglesa pelo nome de bullying, que significa literalmente “a ação de um valentão”, o acossamento se traduz em atos de violência física e/ou psicológica, freqüentes e intencionais, de um ou mais indivíduos teoricamente mais fortes sobre um ou mais indivíduos fracos. O bullying pode ocorrer tanto de forma direta (comumente cometido por pessoas do sexo masculino, quase sempre desembocando em violência física extrema) como indireta (típico das pessoas de sexo feminino e crianças, determinada pela intenção de forçar a vítima ao isolamento social), podendo ocorrer nos mais variados ambientes da sociedade.

            Mais ainda do que a própria observância do tema em si, é mister perscrutar nos já citados eventos citados pela mídia recentemente, em confluência com o pensamento antropológico relacionado à construção cultural humana e suas noções de poder e autoridade, como o fenômeno do bullying pode ser compreendido em suas origens, que mecanismos internos e externos ao Homem contribuem para que ele desfira sua força ou iminente uso da força contra o seu semelhante.

            Com base nisso, foram escolhidos alguns casos de bullying que se tornaram notáveis publicamente para se proceder uma pesquisa de base bibliográfica nas obras consagradas que tratam dos meandros da Cultura e da relação poder-autoridade, com especial ênfase nos textos de Roque de Barros Laraia e José Manuel de Sacadura Rocha, corroborando suas assertivas com os eventos documentados pela mídia, identificando pontos de convergência que possam esclarecer as origens do fenômeno do ponto de vista antropológico.  

                                       

1-      BULLYING: O PODER DA INTIMIDAÇÃO OU A INTIMIDAÇÃO DO PODER?

            O fenômeno do bullying é particularmente interessante, uma vez que foi especialmente difundido como “comportamento normal” dentro da cultura popular, seja desde o romance O Ateneu (1888), do brasileiro Raul Pompeia, passando pelas histórias em quadrinhos do Homem-Aranha (1962), de Stan Lee e Steve Ditko e chegando até a ser mote para a comédia como no filme Te Pego Lá Fora (1987) e a série televisiva Todo Mundo Odeia o Chris (2005-2009). Porém, agora com as recentes pesquisas e situações dramáticas que tem sido relacionadas ao bullying, tais como o Massacre de Columbine (1999), nos Estados Unidos e uma série de outros eventos dentro da própria realidade brasileira, o tema se tornou pauta de discussões sérias e preocupadas nas escolas, nas ruas, dentro de casas, sendo assim, um tema relevante a ser observado pela ótica das Ciências Sociais, especialmente a Antropologia.  

            Por definição, os bullies, indivíduos agressores que comete bullying, realizam atos que combinam intimidação e humilhação da vítima. Insultar, agredir fisicamente, espalhar rumores, depreciar a figura da vítima, discriminando-a por sua etnia, orientação sexual, religião, classe social, procurando isolá-la do convívio social são ações que se caracterizam como bullying. Como já dito, o bullying pode ocorrer nos mais variados ambientes, seja no local de trabalho, na vizinhança, entre estados e países (assumindo semelhanças com a xenofobia) e até mesmo no âmbito militar, tendo inclusive um nome próprio, código vermelho. No entanto, o bullying é sem dúvida uma realidade típica nos ambientes de aprendizado: escolas, universidades e faculdades.  

            No Brasil, uma pesquisa realizada pelo IBGE revelou em 2009 que 30,8% dos estudantes brasileiros admitiram ser vítimas do acossamento, sendo a maioria do sexo masculino e alunos de escolas particulares. Especialmente no ano de 2010, três casos se tornaram emblemáticos sobre o tema e aqui serão analisados pela ótica antropológica a fim de compreender como se origina culturalmente a prática do bullying.

            Em maio de 2010, os pais de um aluno do Colégio Santa Doroteia foram obrigados pela Justiça a pagar uma indenização de oito mil reais depois que este perseguiu uma colega de 15 anos que era supostamente feia e foi caracterizada por ele como “tábua”, “prostituta”, “sem peito” e “sem bunda”. Os pais da menina disseram que várias vezes procuram a direção da escola, mas esta se colocou omissa diante dos eventos que prosseguiram até que a Justiça fosse acionada. A garota, que precisou de tratamento psicológico, teria ficado muito triste, estressada e emocionalmente debilitada nas palavras da psicóloga.

            Em junho do mesmo ano, desta vez no ambiente universitário, estudantes da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo publicaram uma edição do jornal estudantil O Parasita oferecendo um convite para “uma festa brega” a quem jogasse fezes num estudante homossexual.

            Em outubro, em Petrópolis, Rio de Janeiro, uma mãe foi pedir satisfações ao pai de um menino que praticava bullying contra seu filho de nove anos na escola. Este reclamava que era constantemente chamado de “boiola” e “magrelo” por dois colegas, sendo um deles o que apareceu acompanhado pelo pai numa galeria comercial. Diante das câmeras de segurança do local, o homem não só reprimiu a reclamação da mulher, como a agrediu no rosto, empurrou-a no chão e chutou-a, enquanto a mãe revidou como pode.

São três exemplos característicos do bullying, sendo que a agressão, verbal ou física, é motor para um poder de intimidação daquele que se julga superior em relação ao outro que é visto como diferente. Para demonstrar essa superioridade pretensa, esses indivíduos lançam mão da brutalidade, uma vez que já está inserido na sociedade humana a idéia de que o poder está vinculado à violência.

“Precisamos reconhecer, no entanto, que essa separação de autoridade e poder parte de nossas premissas filosóficas tradicionais, segundo as quais sempre nos parece que poder é a Violência institucionalizada e consentida e que a violência de poder sempre é necessária para o convívio social”. (ROCHA, 2008, p.53)

Teorias sobre a origem do bullying colocam em xeque esse possível poder de intimidação, colocando sim uma intimidação do poder como razão. Aquele que se sente o dono da situação, de seu ambiente, de sua área de abrangência, sente-se ameaçado em sua esfera de poder pelo que é novo, diferente e como um mecanismo de autopreservação, busca denegrir o outro, ridicularizá-lo. Pesquisas realizadas na Europa, principalmente nos países escandinavos, tem concluído que a maior parte dos agressores são pessoas com personalidades autoritárias, dominadoras.

E por que se dá esse comportamento? A resposta pode estar na Cultura. LARAIA (2009, p. 65) evoca Ruth Benedict ao dizer que a cultura é como uma lente segundo a qual o homem vê o mundo e assim, diferentes lentes condicionam diferentes visões. A cultura, entendida como trações comuns de tradições, ritos, costumes e valores que constroem a personalidade de uma pessoa, conduz esta em suas ações e/ou omissões, refletindo no comportamento perante a sociedade. E, dependendo da cultura na qual se encontra inserido o sujeito, suas reações diante do que foge à sua cultura podem ser repulsivas.

 “A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante”. (LARAIA, 2009, p.65)

Observando esse aspecto, é patente que há uma explicação cultural por trás das agressões relatadas pelos três casos supracitados. Numa sociedade pós-moderna onde o culto ao corpo é exacerbado, explorado à exaustão, uma garota que não apresente seios ou glúteos avantajados está fora dos padrões de “beleza” e por isso é excluída do convívio daqueles que compartilham o padrão cultural da mulher bela e atraente. Não é à toa que a moça do primeiro caso foi caracterizada e perseguida severas vezes como “feia” pelo colega penalizado. Outra figura que apresenta “comportamento desviante” é o homossexual, que no segundo caso torna-se alvo de discriminação e incitação ao achincalhe por aqueles que discordam de sua orientação, considerada reprovável boa parte da população brasileira, fortemente influenciada cultura judaico-cristã. No terceiro caso, um garoto foi vítima de bullying justamente por ser chamado de “boiola”, gíria popular para homossexual e “magrelo”, mais uma alcunha que caracteriza uma provável “fuga” dos padrões.

A valorização da própria cultura, de seus ritos, tradições, noções de certo e errado levam os homens a considerar quase sempre a sua cultura como a mais natural e correta. É o que as Ciências Sociais chamam de Etnocentrismo e o que, certamente, causa uma série de conflitos, sendo o bullying um dos mais velados e que só agora tem alcançado maior debate. Quando alguém que difere daquilo que é culturalmente aceito dentro de um ambiente, podem haver reações extremadas como o acossamento, uma vez que o diferente, para alguns indivíduos, gera um momento de crise na ordem daquele ambiente.

“O costume de discriminar os que são diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado mesmo dentro de uma sociedade. (...) Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais”. (LARAIA, 2009, p.72)


[1] Alunos do 2° período do Curso de Direito da Faculdade CEUT.

Ciência Política : A ALIENAÇÃO DO HOMEM EM SEU PROPRIO ESTADO SOCIAL

ALIENAÇÃO DO HOMEM EM SEU PRÓPRIO ESTADO SOCIAL :O QUE SE DEVE FAZER PARA MUDAR ESSA REALIDADE?
Cristóvão Alencar

                                  



Há muito se tem discutido sobre a liberdade que compartilhamos em nossa sociedade, onde é livre o que as leis determinarem como tal. Existindo uma critica muito forte sobre essa liberdade, quando dizem que os indivíduos dessas sociedades disciplinadoras, tem se tornado cada vez mais, alienado em seu próprio estado social. Quando se observa, que os mesmos não têm seguido as leis por que acreditam, que assim será melhor para todos, mas por serem previamente avisados  das sansões que possivelmente iram sofrer, caso não segui-las. Em detrimento desse aviso prévio, os indivíduos tem deixado de dar a devida atenção para o que as normas determinam, e dão mais importância  para as sansões que seguem as determinações.  Essa é uma realidade presente em nosso meio, em um mundo capitalista, que tem formado cidadãos cada vez mais individualistas, encampasses de enxergarem o declínios da sua própria sociedade, em uma situação triste e deprimente. Houve-se muito sobre a reformulação dessa liberdade, devendo ser entregue nas mãos do povo, que esse saberá como administra-la. Assim tornando esses cidadãos, indivíduos com plena cidadania, com uma participação mais presente em seu meio social.

Rosseau era tido como ´´liberalista´´, e já havia atentado para esse problema, fazendo fortes críticas ao estado, quando acreditava que a liberdade era a exigência fundamental, para que o individuo se mantivesse em seu estado de homem, como ser social. A liberdade é a principal característica, que separa o homem dos demais animais, e sem ela o homem, assim não poderia ser considerado. Mas engana-se quem acredita, que Rosseau, defendia uma liberdade individualista, ele acreditava que só se é possível ter liberdade em uma coletividade, pois é em uma convenção de homens, que se estabelecem direitos e também deveres. Sendo as convenções a fonte de toda forma de direito, é através do pacto social que as pessoas podem conquistar sua liberdade. A liberdade em Rousseau é a positiva, enquanto emancipação humana na conquista de autonomia, portanto, oposta à liberdade  dos liberais, que se sustenta na “não-intervenção” do Estado, para estimular a livre iniciativa ou a liberdade individual.

Com a liberdade que os liberais defedem, consegui-se ate visualizar o ´´estado de querra´´  que Hobbes tanto atentava, em seu contrato social. E que era a liberdade, essa tal desmedida, que Hobbes acreditava que iria levar o homem a total destruição. E que foi os homens, por reconhecerem a necessidade de ter um controle maior no seu meio, que assinaram entre si um contrato social e passaram o poder para um soberano. E foi depois disso e não antes, que a sociedade surgiu, agora com um clima mais ameno, e a possibilidade do homem sobreviver e viver entre seus semelhantes se estabeleceu. Ate em tão o homem vivia em uma situação totalmente desequilibrada, impossível de ter segurança em sua vida, e por isso ele resolveu entregar a sua liberdade nas mãos de quem o desse a garantia de manutenção de tal segurança no meio social. Mas é impossível manter a segurança, sem enfraquecer a liberdade. Pois se trata de dois valores distintos, que são muito importantes para o homem, mas toda vez que um for evidenciado, o outro terá que ser enfraquecido. E bobbio em sua obra ´´Teoria do ordenamento``, já atentava para essa realidade, quando chamou a situação de duas valorações distintas e opostas, em um mesmo ordenamento, de antinomias .

`` Fala- se de antinomia no Direito com referência ao fato de que um ordenamento jurídico pode ser inspirado em valores contrapostos(em opostas ideologias):consideram-se, por exemplo, o valor da liberdade e o da segurança como valores antinômicos, no sentido de que a garantia da liberdade causa dano, comumente, á segurança, e a garantia da segurança tende a restringir a liberdade;em conseqüência, um ordenamento inspirado em ambos os valores se diz que descansa sobre princípios antinômicos.Nesse caso, pode-se falar de antinomias de principio.´´(BOBBIO, 1995, p. 90 )

 Mas sabemos que tanto a segurança, quanto a liberdade, são essenciais para o desenvolvimento do homem, enquanto ser social. O que se vai fazer, em uma situação de conflito entre essas duas valorações, será enfraquecer a que menos, se grita necessária no momento do conflito. Para Rosseau, o individuo não perde sua liberdade para o soberano, ele permite que o soberano, que em nossa realidade se trata do estado democrático de direito, assegure e proteja, a sua liberdade. Assim tornando possível o seu uso, de forma que não cause dano para a segurança da maioria. Nos lembremos, do que Hobbes nos disse, que foram os próprios indivíduos que gritaram por essa segurança, uma vez que se encontravam em uma situação de total destruição, onde hoje a realidade é de convívio social estabelecido, e que esses não devem questionar o poder do soberano, pois é ele quem iria possibilitar as melhorias do individuo no meio social, através de um poder delegado pelo próprio individuo. Como podemos observar em quase todos os momentos em que vivemos, em qualquer meio social, a segurança se sobrepõe a liberdade, até mesmo por que , sem aquela, essa não seria possível.

Concordamos plenamente com a linha de raciocínio de Hobbes, quando ele fala que é necessário um poder superior para estabelecer a segurança da maioria, mas paramos por ai, pois quando ele acredita que os indivíduos não devem de maneira alguma questionar o poder do soberano a que se submete, já não o mais seguimos, pois esse seu pensamento de maneira alguma reflete a nossa realidade. Uma realidade, onde nossos representante tem sido movidos por maus sentimentos, tendo em suas decisões tudo, menos o reflexo de nossas necessidades sociais. Mas não entremos no mérito da discussão, pois aqui estamos não para escancarar a mau representação dos nossos representantes, que nós mesmos escolhemos e pomos a nossa frente, mas escancarar a irresponsabilidade de todo um povo, que tem deixado de lado o seu papel de cidadão, que é de auxiliar e fiscalizar seus representantes, quando esses promovem projetos de leis que vão contra os valores de sua sociedade. Os ´´cidadãos´´ tem se estabelecido em uma realidade individualista, que chega a ser mais triste que a própria solidão do seu estado de natureza, aquele degradante e destrutivo estado. E é esse comportamento do homem, em pensar apenas em se próprio, que tem o tornado alienado em sua própria realidade social.
Não acreditamos que dar a liberdade nas mãos do povo, seja a melhor solução para esse problema, quando sabemos que não estariam preparados para viver com essa liberdade desmedida, acredita-se que a grande maioria, reconhece a necessidade de um poder maior, para estabelecer a ordem em uma sociedade cada vez mais plural em seus valores. Mas não podemos dar as costas para essa realidade, que tão duramente tem ensinado a nós, que não vivemos uma parte e sim um todo. Acredita-se que o que falta seja uma maior conscientização, para que o povo não apenas reconheça esse sistema como melhor, mas que tire a venda do seus olhos, e o veja funcionar. Como sabemos não existe sistema no mais perfeito funcionamento, todo sistema existe falhas, e é por isso que o povo deva ta atento, para que quando essas falhas surgirem, os mesmos possam reivindicar melhorias de seus representantes.
Em todos os contratos sociais, destacou-se a necessidade da presença do estado, para que estabelecesse um convívio entre os homens. Mas foi em Locke, que atentou-se para a possibilidade do soberano extrapolar os limites do contrato, produzindo determinações ´´injustas´´ contra o povo. No contrato de Locke, vinha estabelecido um direito, que em nem um outro havia previsto, o direito de resistência, caso um soberano usurpasse um poder maior, que o delegado a ele, pelo povo.  E é esse direito, que o povo tem deixado de lado, pois tem se limitado a olhar apenas para sua própria situação individual, e esquece que existe um grande mundo alem do que nossos olhos possam ver. Devemos estar a tento para sabermos quando podemos e devemos usar esse direito de resistência. Resistir não a o poder reconhecido de um soberano, mas a uma realidade injusta que esse, por ventura venha estabelecer. As leis são necessárias para manutenção da ordem, mas essas só terão verdadeira eficácia caso o povo a que elas se voltem, esteja consciente de sua própria realidade social.
Pelo exposto, podemos concluir que a alienação do homem não esta, no fato de que ele pertença a uma sociedade disciplinadora, de liberdade limitada. E sim na sua má participação no desenvolvimento do meio social. E que só com a conscientização dele, será possível modificarmos essa realidade perigosa. Uma realidade que nos tem tornado homens presos á um sistema inverso, aquele que pretendíamos estabelecer com o tal contrato assinado. 

´´O homem inconsciente, é um animal domesticado, sem sensibilidade e sem vontades.´´(Cristovão Alencar)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Diario de campo(AS PROSTITUTAS): quebra de preconceitos

15/03/2010(segunda-feira)                                                                       01:03h

                               

Pré-conceito: prostituição


´´  Mulheres impuras, de vida fácil, imundas na sua intimidade, doentes, que não se dão o devido respeito, sem moral alguma, que ferem os valores de nossa sociedade, e que por esses motivos e outros mais, não merecem nosso respeito.``


          Esse é o conceito que tenho formado, sobre essas mulheres. Não consigo olhar para essas pessoas e sentir dignidade no que vejo, quanto mais direcionar a palavra a essas mulheres em qualquer situação que seja. A minha criação, baseada em conceitos de moral, que provavelmente seja bem contrário aos delas, não permite que eu mantenha contato com esses seres, e que se eu permitir, o mínimo contato, eu estaria permitindo que ferie a minha conduta moral, conduta essa, que minha família me proporcionou de forma tão digna.
         Sempre fui contra a prostituição. Se sentir vontade de transar, vou a uma festa qualquer, conquisto uma menina que me agrade, e a levo em um motel. Não as jugo, por utilizarem seus corpos da forma que elas quiserem, desde que, a forma que elas o use seja exclusivamente para proporcionar prazer a elas. O que não acho correto é usar seu corpo, como mercadoria, e pior atribuir um preço a essa mercadoria. Acredito que nosso corpo é algo de valor inestimável, pois é atravez dele que podemos expressar os diversos sentimentos que estão guardados em nosso mais profundo intimo. Deveríamos ter a consciência, que ninguém pode vender e nem se quer pensar na possibilidade de vender o próprio corpo. Mas a falta de dignidade dessas mulheres é tamanha, que não as permite reconhecer a verdadeira função do seu próprio corpo. A função do nosso corpo é exclusivamente de expressão artística, arte essa, que se encontra em nosso intimo, e que não deve de forma alguma ser colocada no mercado.
         Essas mulheres devem ser conscientizadas, sobre a agressão que estão cometendo, contra elas mesmas. Que por sua vez, agridem a nós, nos obrigando a aceitar a atividade que elas desenvolvem, como algo normal, aceitável.

``Aquele que vende o seu corpo, nunca soube e nem saberá, o verdadeiro significado da expressão, AMOR PROPRIO.´´


17/03/2010 ( quarta-feira )                                                                                   23:22h
1º CONTATO
(entrevista: presidente da associação das prostitutas)
O primeiro contato que tivemos com o grupo das prostitutas, foi as 12:35 do dia 17/03, aonde entrevistamos a Dona Célia, uma ex-prostituta, que hoje se dedica a militância contra o preconceito contra as prostitutas, sendo a atual presidente da associação das prostitutas do Piauí- APP. Essa associação defende justamente o direito dessas mulheres, quanto parte da nossa sociedade.
A entrevista durou cerca de 40 minutos, a abordamos com perguntas diversas, no inicio ficamos meio receosos, pois não sabíamos qual seria a sua reação diante de algumas perguntas que envolviam sua vida particular. Mas com o passar do tempo fomos ficando mais a vontade, pois nos mostrou ser bem descontraída no seu jeito de ser. Fomos muito bem recebidos, muito mais bem tratados por ela, do que provavelmente seriamos, por alguém que se autodenomina digno de viver em sociedade. O que foi uma surpresa pra mim, que não esperava tamanha dignidade em uma recepção, vinda de uma prostituta. Imaginei que se trataria de uma conversa bastante pesada e difícil.
            Tendo por base o que foi repassado por ela, as mulheres nessa situação, normalmente entram nessa vida, por ser a única opção encontrada, em uma realidade financeira totalmente desfavorável ao suprimento de suas mais primarias necessidades. Mas que se depois elas obtivessem uma segunda opção, elas iriam continuar a optar pela primeira. E com isso consegui visualizar o principal direito que elas lutam na associação, que é  `` O direito a liberdade de escolha``. Elas querem poder escolher essa atividade, e que por sua escolha não sejam agredidas pela sociedade, pois elas também fazem parte desse grupo maior.
            A Dona Célia hoje, encontra-se casada, tendo duas filhas como fruto desse relacionamento. Tendo essas informações em mão, questionei a ela a seguinte questão: Se uma de suas filhas optarem pela prostituição, você a apoiaria? Ela ficou por um certo momento pensativa, pensou bem no que ira responder e disse : `` Eu particularmente, como mãe, não apoiaria uma de minhas filhas nessa escolha, pois não gostaria de velas submeter-se a humilhações e sofrimentos, proporcionados por essa vida.
            Com essa declaração, não preciso questionar mais nada, pois a própria presidente da associação, que se diz desprovida de preconceitos, nos mostrou ter o seu próprio preconceito, sendo esse adquirido em uma experiência própria. Ela , mesmo que inconscientemente, reconhece que essa ``  escolha`` , não proporciona uma vida saudável e confortável a essas mulheres. E dessa declaração, levo-me a entender o porque da Dona Célia estar nessa militância contra o preconceito. Pelo que pude perceber, em sua experiência, não teve o olhar de alguém que a ajudasse a vencer esses sofrimentos e humilhações decorrentes de sua realidade de vida, que por muitas vezes nos mostra marcados em seu próprio semblante. Ela reconhece a necessidade, de proporcionar a essas mulheres, uma realidade menos humilhante, aonde as suas necessidades primarias fossem supridas, como por exemplo, a saúde. E nessa tentativa  de proporcionar essa vida mais saudável a essas mulheres, ela oferece em diversas oficinas, que ensina outro meio de ganhar a vida, as prostitutas. Nas oficinas elas aprendem bordado, costura, culinária, conhecimentos em informáticas e vários outros tipos de meios sustentáveis de se manter na sociedade. Mesmo assim não ferindo o direito de liberdade de escolha delas, e se optarem pela prostituição, terão toda a orientação necessária, para desenvolver essa atividade de forma mais saudável e responsável.   



24/03/210(quarta-feira)                                                                                                                   10:48h
2ºCONTATO
(entrevista: Virgiane Passos, produtora da TV Clube)

            Na entrevista coma Dona Célia, a presidente da associação das prostitutas do Piauí, identificamos uma diferença entre as prostitutas da associação e as garotas da Bete Cuscuz. Diferenças não só no local aonde trabalham, mas na forma em que elas se autodenominam. A Célia, no decorrer da sua 21/03/2010 (domingo)                                                                                            militância, observou que as garotas da Bete se reconhecem como ´´ acompanhantes ``, e nunca querem ser defendidas como prostitutas, isso a revolta.
            E com essa revolta particular da Dona Célia, sentimos a necessidade de conhecermos um pouco dessa outra realidade da prostituição. E dessa necessidade, surgiu o nosso segundo contato com a realidade dessas mulheres. Entrevistamos a Virgiane, que no passado fez uma matéria sobre prostituição de luxo, e nessa matéria ela teve o contato direto com as garotas que trabalham na Bete Cuscuz. Pedimos que ela dividisse essa experiência de sua vida, com nós. Nessa entrevista, pude visualizar bem as diferenças entre as prostitutas e as acompanhantes. No caso, as motivações, que levaram cada uma dessas mulheres a optarem por essa vida, e essas motivações são formadas basicamente pela situação socioeconômica em que essas garotas se encontram. De um lado, as que não tem nem mesmo o que comer, isso as levou a optar por essa vida. Do outro lado, as que sentem falta de um padrão de vida elevado e estável, isso as levou a optar por essa atividade.
            Na realidade das garotas de luxo, elas sempre justificam sua escolha, porque querem estudar, e pagar uma faculdade. Mas o que pude observar, é que a maioria que usam essa justificativa, não são fixas em um lugar determinado, sempre indo aonde o lucro estiver mais rentável. O que me deixa mais revoltado com a vida que essas meninas se submetem, é saber que alguma delas tiveram uma segunda opção, mas que optaram por essa situação. Será que essas meninas não percebem, que estão destruindo a elas mesmas? Com esse segundo contato, só reforçou o meu posicionamento contrario a prostituição, podem falar o que quiser, mas continuo acreditando que essa não é uma vida saudável, muito menos digna. Essas meninas tem que serem alertadas sim, não podemos esquecer da responsabilidade social que cada um de nos, temos sobre as mudanças dessa realidade. Até mesmo quando  elas não quiserem mudanças, iremos gritar por mudança, e fazer por onde, para que essas mudanças aconteça. Sem esquecermos do respeito que devemos ter pelo direito a liberdade de escolha dessas mulheres, o que não significa dizer, que concordamos com a vida que elas levam.


24/03/2010 ( quarta-feira)                                                                                       11:36 h
3º CONTATO
( Visita ao 69 Drink´s )

            Depois de conversarmos com uma ex-prostituta e com alguém que teve uma experiência direta com essas mulheres, sentimos a necessidade de termos a nossa própria experiência com uma prostituta na ativa.
            Ontem a noite  eu e o valdemar, fomos ao 69 Drink´s, um bar bastante conhecido aqui em teresina, como ponto de prostituição. Chegamos no lugar por volta de 21:45 h.O estabelecimento ainda estava vazio, com poucos clientes. Eu particularmente estava muito apreensivo, pois até então, nunca tinha freqüentado um ambiente daquele tipo, quanto mais bater papo com uma daquelas mulheres. Só vinha na minha cabeça, a possibilidade, de sermos enxotados dali, ou até mesmo agredidos fisicamente, e o ambiente ser fechado não ajudou muito a me tranqüilizar. Mesmo apreensivo, demos continuidade a nossa visita. Entramos e logo sentamos em uma das mesas, logo em seguida duas belas mulheres, bastante jovens, uma teria 20 anos e a outra 24 anos, se aproximaram  e sentaram a nosso lado. Provavelmente, pensaram que ali iriam lucrar algum.
            Não demorou muito, e logo fomos nos identificando, como estudantes de direito, em seguida descemos o porque de estarmos ali. De uma forma bem sutil, fomos deslanchando a conversa, com perguntas diretas, sobre suas vidas na prostituição. Para minha surpresa as meninas aceitaram conversar com a gente, numa boa, contanto que não as filmassem. Nos trataram com toda a educação e dignidade a que merecíamos. Nos receberam e responderam nossas perguntas, fiquei besta, com o nível  de educação que elas demonstraram ter. O que nos abre os olhos para uma outra realidade, na vida dessas mulheres, já não são mais analfabetas, como antes. Hoje são mulheres instruídas,que possuem ate nível superior, existindo algumas exceções. Como por exemplo, uma das meninas aquém entrevistei, que encontravas se no 3º período de enfermagem, que segundo ela, banca seus estudos com o dinheiro da sua prostituição. Talvez isso seje um ponto positivo, pois quem sabe, atravez de sua formação, ela não saia da prostituição. Ou pode, passar apenas de uma ilusão do meu conciente.
            Nesse terceiro contato, eu ali frente a frente, com uma prostituta, no seu ambiente de trabalho, e escutando tudo o que ela tinha para dizer, foi muito marcante. Até então, eu num reconhecia aquelas mulheres, como seres humanos, e sim como aberrações da sociedade. Mas que agora eu as vejo como seres humanos igual a todos, em sua diferença. Lutamos tanto por liberdade, todos esses séculos, e porque elas não podem ser livres para escolher seu caminho? Já que essa escolha, não fere nem um direito de outro cidadão. Eu continuo sendo contra a prostituição, e tudo o que eu poder fazer para mudar essa realidade dessas mulheres, irei fazer. Mas reconheço que eu não tenho sido digno, no meu posicionamento, em relação a essas mulheres. A dignidade tem faltado na forma em que eu as trato, pois  o que me leva a acreditar que elas não são dignas de respeito como eu? Nem uma justificativa irá dar razão a essa afirmação, pois se elas me respeitaram no ambiente delas, porque eu num vou respeita-las?
            Temos que abrir nossos olhos, e vermos que se  cortarmos o direito a liberdade de escolha dessas mulheres, estaremos dando espaço para outrem cortar o nosso direito a liberdade de escolha, no futuro.  

`` Você é o que escolhe ser.´´

Cristóvão Alencar.

análise do filme de DAVID GALE: á luz dos textos(Caracterização da sociologia, do Galliano e teoria do caos, de Gian Danton )...

                                                         


            Com a teoria do caos de ´Gian Danton´ e a caracterização da sociologia do ´Galliano´ consegue-se visualizar, com mais clareza e realismo, o quanto é importante o papel do individuo no meio social. E observamos que o isolamento do mesmo, já não é mais possível a sua existência, se percebermos que uma determinada ação desse individuo, de forma direta ou indireta, pode vir a influenciar em um fato futuro, onde as consequências produzidas pela ação, pode se expandir e tomar grandes proporções no meio social, e essas conseguências não necessariamente iram atingir o mesmo meio em que esse individuo conviva. Essa relação de ação e conseguência, é o que ´Gian Danton´ na teoria do caos chamou  ´efeito borboleta´ .
            No filme de David Gale, podemos visualizar com bastante clareza, esse chamado efeito borboleta. Um momento do filme que me chamou a atenção para isso, é quando a aluna chega atrasada na aula. A partir deste acontecimento, ela se insinuou ao professor, que recusou, a aluna foi expulsa da universidade, e por isso já fora da universidade consegue o que queria com o professor, e pela sua revolta pessoal, denunciou ele como estuprador. Se pararmos e observarmos com a mínima atenção, a recusa do professor, construiu certo ódio na aluna, levando-a a forjar um estupro, onde o professor é acusado, e mesmo não sendo provado a autoria do crime, levou no futuro a acelerar o processo de pena de morte do professor, uma vez que o juiz considerou seu passado, como base parar tomar à decisão que o levaria a morte. E com a prova em mãos, de que David era inocente, puderam provar que o sistema a que eles pertenciam era falho. Com isso podendo ou não modificar o pensamento de realidade dos indivíduos de toda uma sociedade.
            E tendo esse mesmo fio de raciocínio, para podermos dar continuidade ao nosso entendimento, usando como base o texto do ´Galliano´, podemos observar pelo ponto de vista da sociologia, o quanto a interdependência humana faz referencia a necessidade do ser humano em viver em sociedade, dividindo normas para uma boa convivência em grupo, de forma tal que o isolamento não é possível para sua existência. Quando vemos que uma simples ação isolada de um único individuo, pode levar toda uma sociedade a refletir sobre o seu sistema de vida social. Isso leva a acreditarmos que todos nos estamos interligados, direto e indiretamente, no meio social em que vivemos. Com isso observamos a importância que devemos dar á reciprocidade de cada individuo em relação a seu papel social no meio em que vive. Exemplificando essas relações de reciprocidade, no filme ´A vida de David Gale´, podemos usar como exemplo a relação professor e aluna, onde esperava-se que a aluna tivesse uma postura de dedicação e estudo e do professor uma postura de disciplina e autoridade, pois esse era o papel social que cada um deveria prestar, no entanto nem um e nem o outro foram recíprocos para com seu papel, no sistema social a que eles serviam. E nesse mesmo exemplo podemos destacar o desvio de normas, como a traição do professor e a falta de pudor da aluna, desvios esses que ferem direto e indiretamente, a conduta social dos indivíduos que dividiam as mesmas normas com o professor e a aluna, naquela sociedade.
            No meio social funciona-se de forma planejada, baseando-se em normas, que ao mesmo tempo em que funciona como obrigações, se tornarão um direito adquirido, assim valido para todos os indivíduos desse mesmo sistema de normas. Esse planejamento funciona em grupos e subgrupos, e com essas ramificações vão surgindo diversas regras internas pertencentes individualmente a cada um desses subgrupos. Isso não significando que as normas do grupo principal que é a sociedade, deixaram de serem seguidas, afinal são elas que garantem a organização de todos os subgrupos dentro de um grupo principal, pois apesar de possuírem regras internas, todos seguem o mesmo sistema de normas. No filme podemos usar como exemplo de grupos e subgrupos, quando consideramos que as pessoas que discutem a pena de morte, é um grupo, nesse caso os subgrupos seriam os que são contra e os que são a favor, assim observamos que apesar de cada subgrupo possuir regras internas baseadas em seu ideal, os dois subgrupos fazem parte do mesmo sistema de normas, que mantem a ordem geral do grupo principal, ou seja, a sociedade do Texas que naquele momento discutia-se a pena de morte.
            As divisões de grupos chegam a ser algo sem fim, quando observamos que um mesmo individuo pode participar de diversos subgrupos diferentes. Ao mesmo tempo limitada, quando a participação em um determinado grupo possa impedir que esse individuo de participar de outro determinado grupo. No filme vemos isso, quando o professor que participa do grupo que é contra a pena de morte mas, no entanto ele consegui conciliar a participação neste grupo, com a participação no grupo dos alcoólicos anônimos. No entanto a participação nos alcoólicos anônimos limita sua participação em grupos como o de professores da universidade em que trabalhava, e o de pessoas dentro dos padrões sociais.
            Esses padrões produzidos por necessidades do meio social, são indispensáveis para mantermos a ordem em nosso meio. E a sociedade para que ela exista, é necessário que ela possua determinadas características, as principais são: a definição territorial, a manutenção pela reprodução social, a cultura auto-suficiente e a independência. E dessas características, para que seja de fato uma sociedade para a sociologia, a principal é a cultura auto-suficiente pois essa demanda crença, moral, conhecimento, arte, lei, tantos fatores que são necessários para a manutenção da vida em sociedade.
            Quando refletimos sobre os dois textos dados a analise do filme, percebemos que um completa o entendimento com o outro, mesmo observando que cada um possui níveis de complexidade de entendimento diferentes. Vemos isso, no efeito borboleta, segundo a ordem e desordem de Galliano, a desordem não significa necessariamente caos, e no caso da teoria do caos tudo não parece obedecer a seqüência lógica, mas gera mais informação como prevê a teoria. Ao final da reflexão com todos os conhecimentos obtidos e aproximados da realidade, consegui desconstruir vários preconceitos criados por mim, já que minha visão natural da vida, não permitia que visse sua complexidade por um ângulo mais amplo. Posso usar como exemplo do filme, a questão dos acusados estarem na pena de morte, havia em mim um preconceito que me levava a pensar que pelo fato do individuo chegar ao nível de pena de morte, alguma culpa ele tinha, desconstrui esse preconceito quando no filme, foi mostrado que existe a possibilidade de um individuo ter chegado aquela situação extrema, e assim mesmo possuir a inocência.Com esses preconceitos desconstruidos temos uma liberdade maior para pensarmos e refletirmos sobre o sistema a que pertencemos  e servimos . 

                                                                                                                     por Cristovão Alencar